Gabo - Vida antes da fama Gabriel José García Márquez (Aracataca, 6 de março de 1927 — Cidade do México, 17 de abril de 2014) foi um escritor, jornalista, editor, ativista e político colombiano. Considerado um dos autores mais importantes do século XX, foi um dos escritores mais admirados e traduzidos no mundo, com mais de 40 milhões de livros vendidos em 36 idiomas. Com Julio Cortázar, Mario Vargas Llosa, Carlos Fuentes e Roberto Bolaño, foi um dos expoentes centrais do boom latino-americano - boom latino-americano foi um movimento literário que surgiu nos anos 1960 e 1970, quando o trabalho de um grupo de romancistas latino-americanos relativamente jovens foi amplamente divulgado na Europa e no resto do mundo. Gabriel García é considerado um dos principais autores do realismo mágico, e seu romance mais conhecido, Cem Anos de Solidão, é um dos mais representativos desse movimento literário. Foi laureado com o Prêmio Internacional Neustadt de Literatura em 1972, e o Nobel de Literatura de 1982 pelo conjunto de sua obra. Filho de Gabriel Eligio García e Luisa Santiaga Márquez Iguarán, nasceu em Aracataca, departamento de Magdalena, Colômbia, "no domingo, 6 de março de 1927, às nove da manhã…", como refere o escritor em suas memórias. Quando seus pais se apaixonaram, o pai de Luisa, o coronel Nicolás Ricardo Márquez Mejía, se opôs a essa relação, pois Gabriel Eligio, radiotelegrafista, não era o homem que considerava mais adequado para sua filha, pois era filho de mãe solteira, pertencer ao Partido Conservador Colombiano e ser um mulherengo confesso. Mas Gabriel Eligio a cortejou com serenatas de violino, poemas de amor, inúmeras cartas e frequentes mensagens telegráficas. Finalmente, a família cedeu e Luísa obteve autorização para casar. A história e a tragicomédia desse namoro inspirariam mais tarde o romance de seu filho, O amor nos tempos do Cólera. Pouco depois do nascimento de Gabriel, seu pai tornou-se farmacêutico e, em janeiro de 1928, mudou-se com Luisa para Barranquilla, deixando Gabriel em Aracataca aos cuidados dos avós maternos. Como conviveu com eles durante os primeiros anos, recebeu forte influência do coronel Nicolás Márquez. O coronel era um veterano liberal da Guerra dos Mil Dias, muito respeitado por seus copartidários, conhecido por sua recusa em permanecer calado sobre o massacre da banana (5 de dezembro de 1928), evento em que centenas de pessoas morreram nas mãos das Forças Armadas Colombianas durante uma greve dos trabalhadores bananeiros, que García Márquez capturaria em seu trabalho. A Guerra dos Mil Dias foi uma guerra civil que devastou a República da Colômbia (incluído o Panamá, que era então um departamento da Colômbia), entre 1899 e 1902. Resultou na vitória do governo e na posterior separação do Panamá em 1903. O conflito opôs os membros do Partido Liberal Colombiano contra o governo exercido por uma facção do Partido Conservador Colombiano, chamada de Nacionais. O coronel, a quem Gabriel chamava de Papalelo, o descreveu como seu “cordão umbilical da história e da realidade”. Ele era um excelente contador de histórias. Ensinou o neto a consultar o dicionário, levava-o todos os anos ao circo. Dizia frequentemente: “Não se sabe quanto pesa um morto”, referindo-se assim ao fato de não haver fardo maior do que ter matado um homem, lição que García Márquez incorporaria nos seus romances. Sua avó, Tranquilina Iguarán Cotes, era de origem galega, segundo García Márquez, que a chamava de Mina e a descreve como “uma mulher imaginativa e supersticiosa”, que enchia a casa de histórias de fantasmas, premonições, presságios e sinais. Ela foi tão influente para ele quanto o coronel, sendo inclusive apontada pelo escritor como sua primeira e principal inspiração literária, pois incutiu nele a forma original de contar histórias, tratando o extraordinário como algo natural, por mais fantástico ou improváveis que suas histórias fossem sempre se referia a elas como verdades irrefutáveis. García Márquez afirmou em entrevista ao jornal El País em 1983: "Surgiu o meu interesse em decifrar a sua ascendência, e procurando a sua encontrei a minha nos verdes frenéticos de maio, ao mar e às chuvas ferozes e aos ventos eternos dos campos da Galiza. Só então entendi de onde a minha avó havia tirado aquela credulidade que lhe permitia viver num mundo sobrenatural onde tudo era possível, onde as explicações racionais eram completamente inválidas." Além do estilo, a avó Mina inspirou a personagem Úrsula Iguarán que, três décadas depois, seu neto usaria em Cem Anos de Solidão. Ela morreu em 1936, quando Gabriel tinha oito anos. Devido à cegueira da avó, foi morar com os pais em Sucre (norte da Colômbia), no departamento homônimo de Sucre, onde seu pai trabalhava como farmacêutico. Gabriel era o mais velho de onze irmãos de pai e mãe. Sua infância é contada em suas memórias: Viva para contá-la. Após vinte e quatro anos, em 2007, retornou a Aracataca para uma homenagem que lhe foi prestada pelo governo colombiano ao completar oitenta anos, quarenta desde a publicação de Cem Anos de Solidão. Educação e idade adulta Pouco após chegar a Sucre, foi decidido que Gabriel deveria iniciar sua educação formal e ele foi enviado para um internato em Barranquilla, porto na foz do rio Magdalena. Lá, ele adquiriu a reputação de menino tímido que escrevia poemas humorísticos e desenhava histórias em quadrinhos. Sério e pouco dado a atividades atléticas, foi apelidado de Velho pelos colegas. Frequentou desde 1940 as primeiras séries do ensino secundário no colégio jesuíta San José (hoje Instituto San José), onde publicou poemas na revista escolar Juventud. Graças a uma bolsa do governo, foi enviado para estudar em Bogotá, de onde foi transferido para o Liceo Nacional de Zipaquirá, a uma hora da capital, onde concluirá os estudos secundários. Lá se destacou no esporte, tornando-se capitão do time do Liceo Nacional de Zipaquirá em futebol, beisebol e atletismo. Após sua formatura em 1947, permaneceu em Bogotá para estudar Direito na Universidade Nacional da Colômbia, onde teve especial dedicação à leitura. A metamorfose de Franz Kafka "na falsa tradução de Jorge Luis Borges" inspirou-o de maneira especial. Jorge Luis Borges defendeu que a tradução mais correta do termo alemão verwandlung para a obra de Franz Kafka é "transformação" e não "metamorfose". Borges dizia que chamar a novela de "metamorfose" era "um disparate". Ele ficou entusiasmado com a ideia de escrever, não literatura tradicional, mas num estilo semelhante às histórias de sua avó, nas quais acontecimentos e anomalias extraordinárias são "inseridas como se fossem simplesmente um aspecto da vida cotidiana". Seu desejo de ser escritor cresceu. Publicou seu primeiro conto, A Terceira Renúncia, em 13 de setembro de 1947 no El Espectador. El Espectador é um jornal colombiano de circulação nacional. Foi fundada por Fidel Cano Gutiérrez em 22 de março de 1887, em Medellín. É o jornal mais antigo publicado atualmente no país e um dos mais antigos da América. Deve o seu nome à grande admiração que o seu fundador tinha pelo poeta Victor Hugo, que colaborou na França num jornal que levava esse nome. Ele continuou se formando em direito em 1948 para agradar seus pais. Após o chamado Bogotazo de 1948, tumultos sangrentos em 9 de abril devido ao assassinato do líder popular Jorge Eliécer Gaitán, a universidade fechou por tempo indeterminado e sua pensão foi incendiada. García Márquez mudou-se para a Universidade de Cartagena. Começou a trabalhar como repórter do El Universal. Em 1950, desistiu de ser advogado para se dedicar ao jornalismo e voltou para Barranquilla para trabalhar como colunista e repórter no El Heraldo. Embora ele nunca tenha concluído seus estudos, algumas Casas, como a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, concederam-lhe um doutorado honorário em letras. Nesse mesmo período, participou num grupo de escritores para estimular a literatura. Em 1954, passou a trabalhar no El Espectador como repórter e crítico. Em 1958, trabalhou como correspondente internacional na Europa, retornou a Barranquilla e casou-se com Mercedes Barcha, com quem teve dois filhos: Rodrigo e Gonzalo. Foi para Nova Iorque, em 1961, trabalhar como correspondente internacional, mudando-se depois para o México. Casamento e família Durante a infância, quando visitava os pais em Sucre, conheceu Mercedes Barcha, também filha de um boticário, em um baile de estudantes e decidiu que deveria se casar com ela quando terminasse os estudos. Casaram-se em março de 1958 na igreja de Nuestra Señora del Perpetuo Socorro em Barranquilla. Mercedes é descrita por um dos biógrafos do escritor como "uma mulher alta e bonita, com cabelos castanhos na altura dos ombros e olhos castanhos grandes e penetrantes". García Márquez sempre se referiu à Mercedes, com carinho orgulhoso; Ao falar da sua amizade com Fidel Castro, observou: “Fidel confia na Mercedes ainda mais do que em mim”. Em 1959 tiveram o primeiro filho, Rodrigo, que se tornou cineasta, e em 1961 se estabeleceram em Nova York, onde trabalhou como correspondente da Prensa Latina. Após receber ameaças e críticas da CIA e de dissidentes cubanos, que não compartilhavam o conteúdo de seus relatos, decidiu mudar-se para o México e se estabelecer na capital. Três anos depois, nasceu Gonzalo, futuro designer gráfico na capital mexicana. Embora García Márquez possuísse residências em Paris, Bogotá e Cartagena das Índias, viveu a maioria do tempo na Cidade do México, onde se estabeleceu no início da década de 1960 e onde escreveu Cem Anos de Solidão no número 19 da Rua La Palma do San. Alex