Febrônio Índio do Brasil
Febrônio Índio do Brasil (Jequitinhonha, 14 de janeiro de 1895 — Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1984) foi um assassino em série brasileiro, sendo o primeiro criminoso a ser julgado como louco no país.
Nascido na cidade de São Miguel de Jequitinhonha, atual Jequitinhonha, estado de Minas Gerais. Era o segundo de catorze filhos do casal Theodoro Simões de Oliveira e Reginalda Ferreira de Mattos. Seu provável nome verdadeiro era Febrônio Ferreira de Mattos, mas ganhou fama como Febrônio Índio do Brasil, o Filho da Luz, pois assim se apresentava aos policiais, jornalistas, autoridades judiciárias e psiquiatras forenses.
Seu pai, Thedorão, como era mais conhecido, trabalhava como lavrador, mas exercera durante algum tempo o ofício de açougueiro. Era alcoólatra e, com muita frequência, agredia violentamente sua esposa. Várias vezes, Febrônio presenciou os espancamentos de sua mãe. Thedorão era também violento com os filhos.
Em 1907, aos 12 anos, Febrônio fugiu de casa, na companhia de um caixeiro-viajante. Ficou vagando pelas localidades vizinhas à sua cidade natal, até que chegou a Diamantina, onde foi alfabetizado e ganhou a vida como copeiro. Mais tarde, passou a morar em Belo Horizonte, sobrevivendo graças ao trabalho de engraxate e de auxiliar de serviços domésticos.
Em 1909, Febrônio, com 14 anos, foi para o Rio de Janeiro, então Capital Federal. Retornou a Belo Horizonte em 1916, mas logo regressou ao Rio de Janeiro.
O início da vida criminosa e as revelações místicas
Desde que voltou ao Rio de Janeiro, Febrônio começou a delinquir, tendo sido registradas, entre 1916 e 1929, dezenas de passagens pela polícia por fraude, chantagem, suborno, furto, roubo e vadiagem.
Numa dessas detenções, em 1920, na Colônia Correcional Dois Rios, na Ilha Grande - que funcionou de 1903 a 1994, foi na Ilha Grande que, em 1979, foi fundada a Falange Vermelha, que depois se tornaria o Comando Vermelho.
Febrônio, que passara a ler a Bíblia nos intervalos da praxiterapia - tratamento que se baseia no trabalho organizado como critério terapêutico - durante a noite, teve uma visão na qual uma mulher de longos cabelos loiros o escolheu como o Filho da Luz, título que lhe trazia a incumbência de declarar a todos que Deus não havia morrido.
Segundo a visão, ele deveria tatuar-se e tatuar jovens, ainda que com emprego de força física, com o símbolo D C V X V I, que significava Deus, Caridade, Virtude, Santidade, Vida, Ímã da Vida. A tatuagem serviria como talismã para aqueles que a exibissem no corpo. Agindo conforme o que lhe fora ordenado na visão, Febrônio tatuou a frase Eis o Filho da Luz em seu tórax e, em toda a circunferência de seu tronco, as letras D C V X V I.
Febrônio, então, começou a escrever o livro As Revelações do Príncipe do Fogo, que foi publicado em 1926, o qual traz mensagens incompreensíveis, tiradas dos mistérios oníricos que lhe foram transmitidos. O livro é uma mistura de trechos da Bíblia, princípios espíritas e ideias protestantes.
Em 1921, ao sair da Colônia Correcional, Febrônio montou uma cooperativa médica nomeada Auxiliadora Médica, anunciada nos classificados do jornal Correio da Manhã. O anúncio foi respondido pelo dentista Bruno Ferreira Gabina, que se associou à cooperativa. Febrônio, apresentando-se como Joaquim Índio do Brasil, alugou um consultório para o odontólogo e passou, então, a auxiliá-lo em seus atendimentos, mas os dois abandonaram o local um mês depois, sem pagar o valor da locação.
Em 1922, Bruno desapareceu após encontrar em contato com a mãe, alegando ter encontrado a verdadeira religião. A polícia não conseguiu provar, mas restou a suspeita de que Febrônio matou Bruno e assumiu sua identidade para aplicar golpes. Febrônio abriu um consultório odontológico próprio, na Rua Visconde do Rio Branco, bem no Centro do Rio de Janeiro, onde demonstrava comportamento sádico ao extrair os dentes sadios daqueles que buscavam sua assistência.
Devido à má reputação adquirida, transformou seu consultório em agência de empregos, com a qual enganou as pessoas que, à procura de trabalho, depositavam dinheiro como caução a Febrônio. Perseguido pela polícia, mudou-se para a Bahia em 1925, onde atuou como falso dentista mediante o nome de Dr. Febrônio Simões de Melo Índio do Brasil.
De lá, instalou-se em Mimoso do Sul, no estado do Espírito Santo, local em que atuava como falso médico, sob o nome de Dr. Bruno Ferreira Gabina, onde não ficou muito tempo em virtude da morte de duas crianças para quem ele havia prescrito medicamentos.
Depois, na cidade mineira de Rio Casca, apresentando-se como Dr. Uzeda Filho, continuou a atuar como falso médico, chegando a causar a morte de uma mulher em trabalho de parto. De volta ao Rio de Janeiro, Febrônio foi preso em 8 de outubro de 1926, flagrado nu e com um facão no morro do Pão de Açúcar. Segundo os relatos de Febrônio, ele estava ali a pedido de Lúcifer, o Príncipe das Trevas, para um duelo.
Foi internado no Hospital Nacional de Psicopatas, de onde saiu poucas semanas depois. Nessa internação, foi examinado pelo insigne psiquiatra Dr. Adauto Botelho, quem primeiro diagnosticou que Febrônio era uma pessoa com doença mental.
Posto provisoriamente em liberdade, Febrônio voltou a ser preso em 21 de fevereiro de 1927, no morro do Corcovado, enquanto dançava, completamente nu e com o corpo todo pintado de amarelo, na frente de uma criança aterrorizada que estava amarrada ao tronco de uma árvore. Como ouviu de testemunhas que Febrônio, mais cedo, havia sido flagrado cozinhando, na casa em que era inquilino, uma cabeça humana furtada do Cemitério do Caju, o delegado o encaminhou outra vez para o Hospital Nacional de Psicopatas. Na ocasião, foi examinado pelo eminente psiquiatra Dr. Juliano Moreira, que, auxiliado pelo Dr. Henrique Roxo, ratificou que Febrônio padecia de doença mental.
Em abril de 1927, Febrônio foi internado no Hospício Nacional de Alienados, na Praia Vermelha. Febrônio conheceu Jacob Edelman, um jovem alemão cuja família veio ao Brasil fugindo da Primeira Guerra Mundial, no hospício e logo os dois começaram uma relação que se suspeita ser amorosa.
Não se sabe ao certo pelas notícias e depoimentos na justiça, mas presume-se que foi pela influência de Jacob que Febrônio começou a desenvolver uma admiração pela raça ariana e o povo alemão. Quando os dois estavam já de alta do manicômio, Febrônio tatuou Jacob e um jovem de 17 anos chamado Octávio de Bernardi em um local deserto em Mangaratiba, município do litoral sul fluminense. No início de agosto, outro jovem, Manoel Alves, foi tatuado com as mesmas inscrições.
Alex
Os homicídios de grande repercussão
No dia 13 de agosto de 1927, Febrônio, perambulava pela estrada que ligava Jacarepaguá com a Várzea da Tijuca. Febrônio, conhece Alamiro José Ribeiro, que estava procurando emprego.
Esperto, Febrônio disse que era motorista de uma companhia de ônibus carioca e estava atrás de alguém para fazer um trabalho simples.
A família de Alamiro recebeu com alegria a notícia. Com mais alguns minutos de conversa descolou uma janta na casa, após a janta disse que precisaria levar Alamiro até a companhia, já que este começaria logo de manhã.
Febrônio levou a vítima pra dentro da mata fechada quando a noite já predominava. Insistiu em um certo ponto para pernoitarem e assim tentou avançar sexualmente sobre Alamiro.
Houve uma intensa luta, mas Febrônio conseguiu estrangular o jovem com uma corda de cipó e tatuá-lo no tórax. Deixou Alamiro no mesmo lugar, com as roupas jogadas por cima do corpo nu.
No mesmo dia em que o cadáver de Alamiro foi achado, dia 15 de agosto de 1927, Febrônio, recorrendo mais uma vez a uma enganosa promessa de emprego, tatuou um garoto de 16 anos, de nome Joaquim, que só não teve destino pior porque conseguiu fugir.
Talvez por ter ficado ciente da comoção social gerada pelo homicídio de Alamiro, Febrônio viajou para Petrópolis, hospedando-se no quarto 3 do Hotel Rio Branco. Novamente se passou pelo Dr. Bruno Ferreira Gabina para poder atuar como falso dentista, porém poucos dias depois, retornou ao Rio de Janeiro.
Em 29 de agosto de 1927, abordou João Ferreira, de 10 anos, mais conhecido entre seus amigos e familiares como Jonjoca.
Febrônio enganou os pais do garoto ao ofereceu-lhe emprego de copeiro e, contando com a permissão de ambos, partiu com ele.
Quando se viram isolados na mata do Largo do França, Febrônio prometeu a Jonjoca um terno de presente caso o menino aceitasse que lhe fosse feita no tórax uma tatuagem semelhante à que Febrônio possuía. Amedrontado, ele consentiu, e Febrônio realizou o procedimento com uma agulha, linha e tinta vermelha.
Mais tarde, eles seguiram para a mata da Ilha do Ribeiro, onde Jonjoca foi estrangulado com uma corda. O cadáver do menino só foi encontrado em 7 de setembro, despido, jazendo cerca de 300 metros do local onde fora descoberto o corpo de Alamiro, a vítima anterior de Febrônio.
Indiciamento e julgamento
Em 16 de agosto de 1927 a polícia foi avisada que um cadáver tinha sido encontrado na Ilha do Ribeiro, no dia anterior. O corpo foi reconhecido como sendo o de Alamiro José Ribeiro, ao lado do qual estava um boné.
Um dos investigadores se lembrou que, poucos dias atrás, um detento havia saído da prisão trajando aquele boné. Na Casa de Detenção, o investigador obteve a informação de que aquele boné havia sido furtado de um detento por Febrônio Índio do Brasil, no dia em que este foi libertado.
A fotografia constante da ficha policial de Febrônio foi mostrada ao pai de Alamiro, que o identificou como o homem que, oferecendo emprego ao rapaz em uma empresa de ônibus, saiu com ele no dia de seu desaparecimento.
Febrônio foi finalmente localizado em 31 de agosto; conduzido à 4° Delegacia Auxiliar do Rio de Janeiro, ele foi reconhecido pelo pai de Jonjoca como aquele que propôs emprego de copeiro a seu filho no dia de seu desaparecimento, levando-o consigo em seguida.
Dois dias depois, em 2 de setembro, o delegado Dr. Oliveira Ribeiro conseguiu obter a confissão de Febrônio quanto ao assassinato de Alamiro, mas só assumiu sua responsabilidade pelo homicídio de Jonjoca em 8 de setembro, oportunidade em que declarou que cometera os dois crimes em "holocausto ao deus-vivo, símbolo de sua religião."
Em 19 de setembro de 1927, Febrônio foi denunciado pelo Ministério Público pelo homicídio qualificado de Alamiro José Ribeiro e de João Ferreira e, dois dias depois, ele foi transferido da 4° Delegacia Auxiliar do Rio de Janeiro para a Casa de Detenção, onde recebeu o número 194. Vários casos de garotos que foram noticiados pela imprensa como vítimas de Febrônio ficaram excluídos do processo por falta de provas concretas. Também não se conseguiu comprovar que Febrônio assassinou o dentista Dr. Bruno Ferreira Gabina para apoderar-se de seu diploma, embora desde 1922 o paradeiro do odontólogo nunca mais foi conhecido, nem por sua mãe Maria Ferreira Gabina.
É difícil separar o que era real do que era ficção.
Em 21 de setembro de 1927, o diário impresso O Jornal inicia uma série de reportagens intitulada 'O criminoso Febrônio perante a Psiquiatria.'
Em 1928, Febrônio foi levado diante do júri presidido pelo juiz Dr. Ary de Azevedo. Sua defesa foi executada pelo advogado Dr. Letácio Jansen, que sustentou sua inimputabilidade penal em face de sua manifesta loucura.
Foi, então, conseguido que Febrônio fosse examinado quanto à sua sanidade mental pelo preclaro psiquiatra forense Dr. Heitor Pereira Carrilho.
Os dados colhidos pela entrevista: "aparentaram ser fruto de imaginação místico-delirante extravaganciada pela incultura da parte de Febrônio, exemplificada pela fixação na figura materna que, segundo ele, chamava-se Estrella do Oriente Índio do Brasil."
Esses dados foram cotejados com aqueles obtidos pelas informações passadas por Agenor Ferreira de Matos, irmão de Febrônio que morava na cidade baiana de Jequié e que tinha vindo visitá-lo na prisão: "ficando comprovado assim que o indiciado falseou seu depoimento, seja por estratégia consciente, seja por mitomania mórbida."
Em 20 de fevereiro de 1928, Dr. Heitor Carrilho, auxiliado pelo Dr. Manoel Clemente Reyio, emitiu, enfim, um extenso laudo pericial que se tornou célebre, no qual, baseado em teorias modernas para a época, estão as seguintes conclusões:
“1.° ― Febrônio Índio do Brasil é portador de uma psicopatia constitucional, caracterizada por desvios éticos, revestindo a forma da loucura moral e perversões instintivas, expressas no homossexualismo com impulsões sádicas, estado esse a que se juntam ideias delirantes da imaginação, de caráter místico.
2.° ― As suas reações antissociais ou os atos delituosos de que se acha acusado resultam dessa condição mórbida que lhe não permite a normal utilização de sua vontade.
3.° ― Em consequência, a sua capacidade de imputação se acha prejudicada ou dirimida.
4.° ― Deve-se ter em conta, porém, que as manifestações anormais de sua mentalidade são elementos que definem a sua iniludível temibilidade e que, portanto, deve ele ficar segregado ad vitam para os efeitos salutares e elevados da defesa social, em estabelecimento apropriado a psicopatas delinquentes.”
Armado com os possantes argumentos científicos desse laudo, Dr. Letácio Jansen conseguiu a absolvição de Febrônio, e o juiz Dr. Ary de Azevedo determinou seu recolhimento, a partir de 6 de junho de 1929, como o primeiro interno do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro, renomeado em 1954 como Manicômio Judiciário Heitor Carrilho, em homenagem a seu primeiro diretor, que havia falecido nesse mesmo ano.
A fuga, a recaptura e a morte
No dia 8 de fevereiro de 1935, Febrônio, aproveitando a distração da guarda provocada pela chegada dos funcionários do turno da manhã, escalou o muro de 4 metros de altura do Manicômio Judiciário graças ao emprego de uma corda feita de lençóis atados cuja extremidade possuía um gancho fabricado com alças de balde. Sua fuga, contudo, durou somente até o dia seguinte, já que Bernadino Barbosa procurou a delegacia para relatar que Febrônio estava escondido na casa dele, no bairro carioca de Honório Gurgel.
Bernadino contou que ele fora alojado a pedido de um amigo, Agenor, irmão de Febrônio, e que decidiu procurar a polícia já que ficara amedrontado ao saber, por meio dos jornais que noticiaram a escapada, dos crimes perpetrados pelo hóspede.
Febrônio, encontrado totalmente despido, foi reconduzido ao Manicômio Judiciário, onde permaneceu até sua morte, em 27 de agosto de 1984, aos 89 anos de idade, como consequência de enfisema pulmonar. Seu corpo foi discretamente inumado em 5 de setembro de 1984, no Cemitério do Caju.
O caso Febrônio deixou um enorme legado, jurídico-científico e cultural tornando-se uma espécie de bicho-papão; os pais diziam aos filhos na década de 1920: "Não faça isso ou o Febrônio vai te pegar.", sendo visitado e estudado por escritores como Blaise Cendrars e Mario de Andrade.
No próximo texto sobre Febrônio falarei desse legado.
John Houlding John Houlding (c. agosto de 1833 - 17 de março de 1902) foi um empresário e político local, mais notável por ser o fundador do Liverpool Football Club e, mais tarde, Lord Mayor de Liverpool (prefeito). Anteriormente, ele também foi presidente e do Everton FC Club. Em novembro de 2017, Houlding foi homenageado com um busto de bronze fora de Anfield para marcar o 125º aniversário do Liverpool FC. Biografia Houlding era um empresário na cidade de Liverpool. Ele foi educado no Liverpool College, foi dono de uma cervejaria que o deixou em uma situação financeira confortável pelo resto de sua vida. Ele foi eleito para o Conselho Municipal de Liverpool, representando o bairro de Everton pelo Partido Conservador e Unionista, comumente Partido Conservador e coloquialmente conhecido como Conservadores, é um dos dois principais partidos políticos do Reino Unido, juntamente com o Partido Trabalhista. O partido situa-se no centro-direita. Em 1887, Houlding foi eleito Lord Mayo...
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