Valerie Solanas - Vida até a tentativa de assassinato contra Andy Warhol Valerie Jean Solanas (9 de abril de 1936 – 25 de abril de 1988) foi uma feminista radical, lésbica e escritora estadunidense. Ela é conhecida por escrever o Manifesto SCUM, onde propõe a criação de uma sociedade dirigida pelas mulheres, livre do controle masculino, na qual homens seriam extintos para que as mulheres pudessem viver em harmonia, e corrigir os estragos que os homens causaram para o mundo. Valerie Solanas nasceu em 1936 em Ventnor City, Nova Jersey, filha de Louis Solanas e Dorothy Marie Biondo. Seu pai era bartender e sua mãe assistente de dentista. Ela tinha uma irmã mais nova, Judith Arlene Solanas Martinez. Solanas relatou que seu pai abusava sexualmente dela regularmente. Quando ela tinha 11 anos seus pais se divorciaram e Valerie mudou-se com a mãe para Washington D.C. Pouco tempo depois do divórcio sua mãe se casou novamente, mas Valerie não gostava do padrasto e se rebelou contra sua mãe. Quando criança, ela escrevia insultos para as crianças usarem umas contra as outras, pelo custo de um centavo. Na escola, ela bateu em um menino que estava incomodando uma menina mais nova, e também bateu em uma freira. Por causa de seu comportamento rebelde, a mãe de Solanas a enviou para ser criada pelos avós em 1949. Solanas relatou que seu avô era um alcoólatra violento que frequentemente batia nela. Quando ela tinha 15 anos, seu avô a expulsou e ela ficou sem teto. Em 1953, Solanas deu à luz um filho, filho de um marinheiro casado. A criança, chamada David, foi levada embora e ela nunca mais o viu. Apesar disso, Solanas se formou no ensino médio na hora certa e se formou em psicologia pela Universidade de Maryland, College Park, onde fez parte da Psi Chi Honor Society. Psi Chi ΨΧ) é uma sociedade de honra para estudantes universitários em psicologia com alcance internacional fundada em 1929 na Universidade de Kansas, nos Estados Unidos. A Psi Chi é uma das maiores sociedades de honra dos Estados Unidos, com mais de 800.000 membros de filiais nos Estados Unidos, Canadá e vários outros países. Membros notáveis da organização incluem BF Skinner, Philip Zimbardo, Jon Stewart e Phil McGraw. Enquanto estava na Universidade de Maryland, ela apresentou um programa de rádio onde dava conselhos sobre como combater os homens. Solanas era lésbica declarada, apesar do clima cultural conservador da década de 1950. Solanas frequentou a Escola de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Minnesota, onde trabalhou no laboratório de pesquisa animal, antes de abandonar o curso e passar a frequentar Berkeley para alguns cursos. Foi nessa época que ela começou a escrever o Manifesto SCUM. Nova York e a Factory Em meados da década de 1960, Solanas mudou-se para Nova Iorque e sustentou-se através da mendicância e da prostituição. Em 1965, ela escreveu duas obras: um conto autobiográfico, "A Young Girl's Primer on How to Attain the Leisure Class", e uma peça, Up Your Ass, baseada em um enredo sobre uma prostituta menndiga que odeia homens' e que acaba matando um homem. O conto foi publicado na revista Cavalier em julho de 1966. Up Your Ass permaneceu inédito até 2014. Em 1967, Solanas encontrou o artista pop Andy Warhol fora de seu estúdio, The Factory, e pediu-lhe para produzir Up Your Ass. Ele aceitou o manuscrito para revisão, disse a Solanas que estava "bem digitado" e prometeu lê-lo. Warhol, cujos filmes eram frequentemente cancelados pela polícia por obscenidade, achou o roteiro tão escandaloso que devia ser uma armadilha policial. Solanas indagou Warhol sobre o roteiro e foi informada de que ele o havia perdido. Ele também, brincando, ofereceu a ela um emprego na Fábrica como digitadora. Insultada, Solanas exigiu dinheiro pelo roteiro perdido. Em vez disso, Warhol pagou-lhe US$ 25 para aparecer em seu filme I, a Man (1967). Ela ficou satisfeita com sua experiência de trabalho com Warhol e Maurice Girodias, o fundador da Olympia Pres, assistiu as filmagens. Girodias a descreveu como "muito relaxada e amigável com Warhol". Solanas também teve um papel sem falas no filme Bike Boy (1967), de Warhol. Manifesto SCUM Em 1967, Solanas publicou por conta própria seu trabalho mais conhecido, o Manifesto SCUM , uma crítica contundente à cultura patriarcal .O Manifesto foi traduzido para mais de uma dúzia de idiomas e introduzido em diversas antologias feministas. Enquanto morava no Chelsea Hotel , Solanas se apresentou a Girodias, também residente no hotel. Em agosto de 1967, Girodias e Solanas assinaram um contrato informal declarando que ela daria a Girodias seus próximos escritos. Em troca, Girodias pagou-lhe $500. Solanas interpretou isso como significando que Girodias seria o dono de seu trabalho. Ela disse a Paul Morrissey que "tudo que eu escrever será dele. Ele fez isso comigo... Ele me ferrou!" Paul Morrissey (nascido em 23 de fevereiro de 1938) é um diretor de cinema americano, mais conhecido por sua associação com Andy Warhol. Ele também foi diretor do primeiro filme estrelado por uma atriz transgênero, Holly Woodlawn, como namorada do personagem principal interpretado por Joe Dallesandro em Trash (1970). Solanas pretendia escrever um romance baseado no Manifesto SCUM e acreditava que uma conspiração estava por trás da recusa de Warhol em devolver o roteiro Up Your Ass. Ela suspeitava que ele estava trabalhando com Girodias para roubar seu trabalho. De acordo com uma fonte não citada em The Outlaw Bible of American Literature, em 3 de junho de 1968, às 9h, Solanas teria chegado ao Hotel Chelsea e chamadodo por Girodias na recepção, e ser informada de que ele havia partido no fim de semana. Em sua biografia de Solanas de 2014, Breanne Fahs argumenta que é improvável que ela tenha aparecido no Chelsea Hotel procurando Girodias, especulando que Girodias pode ter fabricado a história a fim de aumentar as vendas do Manifesto SCUM, que ele havia publicado. Fahs afirma que "a história mais provável... coloca Valerie no Actors Studio em 432 West Forty-Fourth Street naquela manhã." A atriz Sylvia Miles afirma que Solanas apareceu no Actors Studio procurando por Lee Strasberg, pedindo para deixar uma cópia de Up Your Ass para ele. Miles disse que Solanas "tinha uma aparência diferente, um pouco desgrenhada, como alguém cuja aparência é a última coisa em sua mente". Miles disse a Solanas que Strasberg só chegaria à tarde, aceitou o roteiro e então "fechou a porta porque sabia que ela era um problema. Não sabia que tipo de problema, mas sabia que ela era um problema." O Actors Studio é uma organização associativa para atores profissionais, diretores de teatro e dramaturgos localizada na West 44th Street em Hell's Kitchen , Nova York. O estúdio é mais conhecido por seu trabalho de refinamento e método de ensino de atuação. Foi fundado em 1947 por Elia Kazan, Cheryl Crawford e Robert Lewis, e mais tarde dirigido por Lee Strasberg, todos ex-membros do Group Theatre, um dos pioneiros das técnicas de atuação de Constantin Stanislavsky. Fahs registra que Solanas então viajou para a residência da produtora Margo Feiden em Crown Heights, Brooklyn, pois ela acreditava que Feiden estaria disposta a produzir Up Your Ass, Solanas conversou com Feiden por quase quatro horas, tentando convencê-la a produzir a peça e discutindo sua visão para um mundo sem homens. Ao longo desse tempo, Feiden recusou-se repetidamente a produzir a peça. De acordo com Feiden, Solanas então sacou sua arma, e quando Feiden novamente se recusou a se comprometer com a produção da peça, ela respondeu: "Sim, você produzirá a peça porque eu atirarei em Andy Warhol e isso me tornará famosa e a peça famosa, e então você o produzirá." Ao sair da residência de Feiden, Solanas entregou a Feiden uma cópia parcial de um rascunho anterior da peça e outros documentos pessoais. Fahs descreve como Feiden então ligou freneticamente para a delegacia de polícia local, para a sede da polícia em Lower Manhattan e para os escritórios do prefeito John Lindsay e do governador Nelson Rockefeller para relatar o que aconteceu e informá-los que Solanas estava a caminho naquele exato momento para atirar em Andy Warhol. Em alguns casos, a polícia respondeu que "Você não pode prender alguém porque acredita que ela vai matar Andy Warhol", e até perguntou a Feiden: "Escute, senhora, como você saberia como era uma arma de verdade? " Em uma entrevista de 2009 com James Barron do The New York Times, Feiden disse que sabia que Solanas pretendia matar Warhol, mas não poderia evitar. Solanas seguiu para a Factory e esperou do lado de fora. Paul Morrissey chegou e perguntou o que ela estava fazendo lá, e ela respondeu: "Estou esperando Andy me conseguir dinheiro". Morrissey tentou se livrar dela dizendo que Warhol não viria naquele dia, mas ela disse que esperaria. Às 14h, Solanas subiu ao estúdio. Morrissey disse-lhe novamente que Warhol não viria e que ela precisava ir embora. Ela saiu, mas subiu e desceu de elevador até que Warhol finalmente chegou. Solanas entrou na The Factory com Warhol, que a elogiou por sua aparência, já que ela usava maquiagem incomum. Morrissey disse a ela para ir embora, ameaçando "dar uma surra". O telefone tocou e Warhol atendeu enquanto Morrissey ia ao banheiro. Enquanto Warhol estava ao telefone, Solanas disparou três vezes contra ele. Ela errou os dois primeiros tiros, mas o terceiro atravessou o baço, estômago, fígado, esôfago e pulmões. Ela então atirou no quadril do crítico de arte Mario Amaya. Solanas ainda tentou atirar em Fred Hughes, empresário de Warhol, mas sua arma travou. Hughes pediu que ela fosse embora, o que ela fez, deixando para trás um saco de papel com sua agenda sobre uma mesa. Warhol foi levado ao Hospital Columbus-Mother Cabrini, onde foi submetido a uma operação bem-sucedida de cinco horas. Mais tarde naquele dia, Solanas entregou-se à polícia, entregou a arma e confessou o crime, dizendo a um policial que Warhol "tinha muito controle da minha vida". Suas impressões digitais foram coletadas e ela acusada de agressão criminosa e posse de arma ilegal. Na manhã seguinte, o New York Daily News publicou a manchete de primeira página: "Atriz atira em Andy Warhol". Solanas exigiu a retratação da afirmação de que era atriz. O New York Dally News mudou a manchete em sua edição posterior e adicionou uma citação de Solanas afirmando: "Sou escritora, não atriz". Em sua acusação no Tribunal Criminal de Manhattan, Solanas disse ao juiz que "não é sempre que eu atiro em alguém. Não fiz isso por nada. Warhol havia me amarrado, trancado. Ele ia fazer algo comigo que teria arruinou-me." Ela declarou que queria se representar e insistiu que "estava certa no que fiz! Não tenho nada do que me arrepender!" O juiz retirou os comentários de Solanas dos autos do tribunal e a internou no Hospital Bellevue para observação psiquiátrica. Após uma avaliação superficial, Solanas foi declarado mentalmente instável e transferido para a ala prisional do Elmhurst Hospital. Ela compareceu à Suprema Corte de Nova York em 13 de junho de 1968. Florynce Kennedy a representou e pediu um habeas corpus, argumentando que Solanas estava sendo detida de forma inadequada em Elmhurst. O juiz negou a moção e Solanas voltou para Elmhurst. Em 28 de junho, Solanas foi indiciada por tentativa de homicídio, agressão e posse ilegal de arma de fogo. Ela foi declarada "incompetente" em agosto e enviada ao Hospital Estadual Matteawan para Criminosos Insanos. Nesse mesmo mês, a Olympia Press publicou o Manifesto SCUM. Em janeiro de 1969, Solanas passou por avaliação psiquiátrica e foi diagnosticado com esquizofrenia paranoide crônica. Em junho, ela foi considerada apta para ser julgada. Ela se representou sem advogado e se declarou culpada de “agressão imprudente com intenção de causar dano”. Solanas foi condenado a três anos de prisão, com um ano de pena cumprida. O que poderia ser bem pior se Warhol não se recusse a testemunhar contra ela. Alx