Ariano Suassuna Ariano Vilar Suassuna (João Pessoa, 16 de junho de 1927 – Recife, 23 de julho de 2014) foi um intelectual, escritor, filósofo, dramaturgo, romancista, artista plástico, ensaísta, poeta e advogado brasileiro. Ariano Vilar Suassuna nasceu em Paraíba do Norte, atual João Pessoa, um dos nove filhos de Rita de Cássia Dantas Villar e João Suassuna. Ariano foi casado com Zélia de Andrade Lima, com quem teve seis filhos. Foram casados de 1957 até 2014. Seu pai era então o presidente (seria hoje chamado de governador) do estado da Paraíba. Ariano nasceu nas dependências do Palácio da Redenção, sede do Executivo paraibano. No ano seguinte, o pai deixa o governo da Paraíba, e a família passou a morar no sertão, na Fazenda Acauã, em Sousa. Durante o movimento armado que culminou com a Revolução de 1930, quando Ariano tinha três anos, seu pai João Suassuna foi assassinado por motivos políticos na cidade do Rio de Janeiro, e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. O próprio Ariano Suassuna reconhecia que o assassinato de seu pai ocupava posição marcante em sua inquietação criadora. No discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, disse: “Posso dizer que, como escritor, eu sou, de certa forma, aquele mesmo menino que, perdendo o pai assassinado no dia 9 de outubro de 1930, passou o resto da vida tentando protestar contra sua morte através do que faço e do que escrevo, oferecendo-lhe esta precária compensação e, ao mesmo tempo, buscando recuperar sua imagem, através da lembrança, dos depoimentos dos outros, das palavras que meu pai deixou.” O assassinato de João Suassuna ocorreu como desdobramento da comoção posterior ao assassinato de João Pessoa, governador da Paraíba e candidato a Vice-Presidente do Brasil na chapa de Getúlio Vargas. Ariano Suassuna atribuía à família Pessoa a encomenda do assassinato de seu pai, contratando o pistoleiro Miguel Laves de Souza, que atirou na vítima pelas costas, no Rio de Janeiro. Em razão disso, não concordava com a alteração do nome da cidade onde nasceu, de "Paraíba do Norte" (na grafia arcaica 'Parahyba) para "João Pessoa", em homenagem ao governador assassinado. Em Taperoá, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de "improvisação" seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral. Mamulengo é um tipo de fantoche típico do nordeste brasileiro, especialmente do estado de Pernambuco. A origem do nome é controversa, mas acredita-se que ela se originou de mão molenga - mão mole, ideal para dar movimentos vivos ao fantoche. Um ou mais manipuladores dão voz e movimento aos bonecos. Suas apresentações eram em praça pública, em geral, nos arrabaldes durante os festejos religiosos, apresentando temática em geral bíblica ou sobre atualidades. O Mamulengo faz parte da cultura popular nordestina, sendo praticada desde a época colonial. Retrata situações cotidianas (geralmente, cômicas ou satíricas). No ano de 2015, foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural do Brasil. Formação acadêmica A partir de 1942, passou a viver em Recife, onde terminaram, em 1945, os estudos secundários. No ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Recife, onde se formou em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1950. Entre 1957 e 1959 cursou o bacharelado em Filosofia na Universidade Católica de Pernambuco, colando grau em 1960. Em 1976, tornou-se livre-docente em História da Cultura Brasileira pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco. Carreira Ariano Suassuna estreou seus dons literários precocemente no dia 7 de outubro de 1945, quando o seu poema "Noturno" foi publicado em destaque no Jornal do Commercio do Recife. Na Faculdade de Direito do Recife, conheceu Hermilo Borba Filho, com quem fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça, Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa), foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco, em seguida Os Homens de Barro. Seguiu-se o Auto de João da Cruz, de 1950, que recebeu o Prêmio Martins Pena. No mesmo ano, volta a Taperoá para curar-se de uma doença pulmonar e lá escreve e monta a peça Torturas de um Coração. Retorna a Recife, onde, entre 1952 e 1956, dedica-se à advocacia e ao teatro. Em 1953, escreve O Castigo da Soberba, depois vieram O Rico Avarento (1954) e o aclamado Auto da Compadecida, de 1955, que o projetou em todo o país. Em 1962, o crítico teatral Sábato Magaldi diria que a peça é "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro". Sua obra mais conhecida, já foi montada exaustivamente por grupos de todo o país, além de ter sido adaptada para a televisão e para o cinema. Em 1956, afasta-se da advocacia e torna-se professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco, onde se aposentaria em 1994. Em 1957, vieram O Santo e a Porca e O Casamento Suspeitoso. Depois vieram O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna (1958) e A Pena e a Lei (1959), premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro. Em 1959, funda o Teatro Popular do Nordeste, também com Hermilo Borba Filho, onde monta as peças Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPE. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira. De formação calvinista e posteriormente agnóstico, converteu-se ao catolicismo, por influência de sua esposa Zélia, com quem se casou em 19 de janeiro de 1957. Estas três vertentes influenciariam sua obra de forma significativa. "... Em quase todo o meu teatro, um pouco pela natureza da sátira, mas também um pouco, parece, devido à minha formação calvinista, eu passo o tempo todo julgando os outros e a mim mesmo, absolvendo ou condenando os bons e os maus.[...] Talvez no supra-moralismo do Deus dos Profetas caibam não só as vítimas, mas os chicotes, as espadas, aqueles que os empunharam e até o chefe de todos eles, o Demônio, cujo papel e cuja missão só Deus pode entender. Em suma, dentro da minha cegueira, o que acho é que Deus, para nós, é um arquejo, uma aspiração..." Membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967–1973); nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE (1969–1974). Ligado diretamente à cultura, iniciou em 1970, no Recife, o "Movimento Armorial", interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado no Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto "Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial" e com uma exposição de gravura, pintura e escultura. Foi secretário de Educação e Cultura do Recife, de 1975 a 1978, e secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes, de 1994 a 1998. Entre 1956 e 1976, dedicou-se à prosa de ficção, publicando História de Amor de Fernando e Isaura" (1956), O Romance d'A Pedra do Reino", O Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), e História d'O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão (1976). No mesmo ano, defende sua tese de livre-docência, intitulada A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão Sobre a Cultura Brasileira. Ariano afirmava: "Você pode escrever sem erros ortográficos, mas ainda escrevendo com uma linguagem coloquial." No ano seguinte, foi encenada a sua peça O Casamento Suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso e O Santo e a Porca. Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte, onde ocorre a cavalgada inspirada no Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município. Em dezembro de 2017, foi publicada sua obra inédita e póstuma, A Ilumiara – Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores. A organização do trabalho foi feita por sua família, reunindo os escritos que Suassuna levou seus últimos trinta anos de vida para escrever. A obra é dividida em dois volumes, O Jumento Sedutor e O Palhaço Tetrafônico e é considerada pela crítica seu "testamento literário", tendo sido finalizada pouco antes de sua morte. O próprio Ariano Suassuna considerava a obra como "o livro da sua vida". “Estou acabando um romance que é o livro da minha vida. Ele é dedicado a três pessoas: Miguel Arraes, Luiz Inácio Lula da Silva e Eduardo Campos. Eu exercito três gêneros literários: romance, teatro e poesia. Mas sempre fiz isso separadamente. Nessa nova obra, estou tentando fundir o dramaturgo, o romancista e o poeta num só. Por isso, a considero como minha obra definitiva. ” Alex

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