Cinema do Brasil - Início até a Chanchada A primeira exibição de cinema no Brasil aconteceu em 8 de julho de 1896, no Rio de Janeiro, por iniciativa do exibidor itinerante belga Henri Paillie. Naquela noite, numa sala alugada do Jornal do Commercio, na Rua do Ouvidor, foram projetados oito filmetes de cerca de um minuto cada, com interrupções entre eles e retratando apenas cenas pitorescas do cotidiano de cidades da Europa. Só a elite carioca participou deste fato histórico para o Brasil, pois os ingressos não eram baratos. Um ano depois já existia no Rio uma sala fixa de cinema, o "Salão de Novidades Paris", de Paschoal Segreto. Os primeiros filmes brasileiros foram rodados em 1897, por José Roberto da Cunha Salles são: "Ancoradouro de Pescadores na Baía de Guanabara", "Chegada do trem em Petrópolis", "Bailado de Crianças no Colégio, no Andaraí" e "Uma artista trabalhando no trapézio do Politeama". Os filmes foram apresentados, pela primeira vez, no Cassino Fluminense, em Petrópolis, no dia 1 de maio de 1897, num evento histórico, pois esta sessão de filmes é considerada a primeira apresentação de "filmetes" de nacionalidade brasileira em território nacional. Ainda assim, desde os anos 1970, 19 de junho é considerado o Dia do Cinema Brasileiro. Estruturação do mercado exibidor (1907–1910) A estruturação do mercado exibidor de cinema no país acontece entre 1907 e 1910, quando o fornecimento de energia elétrica no Rio e São Paulo passa a ser mais confiável. Em 1908 já havia 20 salas de cinema no Rio, boa parte delas com suas próprias equipes de filmagem. Primeiros filmes "posados" e "cantados" (1906–1911) Os primeiros filmes "posados" (isto é, de ficção) feitos no Brasil geralmente realizados por pequenos proprietários de salas de cinema do Rio e São Paulo, sendo frequentemente reconstituições de crimes já explorados pela imprensa: o média-metragem Os Estranguladores, de Francisco Marzullo (1906), o primeiro sucesso, com mais de 800 exibições no Rio; O Crime da Mala, de Francisco Serrador (São Paulo, 1908) e Noivado de Sangue, de Antonnio Leal (Rio, 1909). Mas havia também comédias, como o curta Nhô Anastácio Chegou de Viagem, de Júlio Ferrez (1908). Adaptações literárias (1911–1926) A partir de 1911, chegam a São Paulo imigrantes italianos que acabariam tomando conta do mercado nos próximos 30 anos: Gilberto Rossi, João Stamato, Arturo Carrari. O ator italiano Vittorio Capellaro associa-se ao cinegrafista Antônio Campos e juntos filmam os, longas Inocência (1915), a partir do romance e obra-prima de Visconde de Taunay, e O Guarani (1916), baseado em José de Alencar. No Rio, Luiz de Barros, que viria a realizar mais de 60 longas-metragens até os anos 70, também começa por José de Alencar: A Viuvinha (1915), Iracema (1918) e Ubirajara (1919). Cavação (1916–1935) A partir de 1916, os "naturais" (documentários) se organizam em cine-jornais, produzidos e exibidos semanalmente, mantendo o pessoal de cinema em atividade com filmagens de futebol, carnaval, festas, estradas, inaugurações de fábricas. Muitos "naturais" eram claramente encomendadas, misturando jornalismo e propaganda. Daí o termo pejorativo "cavação", ou picaretagem. Até 1935, existiram 51 cine-jornais no país, alguns de vida curta; mas o Rossi Atualidades teve 227 edições em 10 anos (1921–31), financiando a produção dos filmes de ficção dirigidos por José Medina e fotografados por Gilberto Rossi, como Exemplo regenerador (1919). Perversidade (1920) e a obra-prima do cinema mudo brasileiro Fragmentos da vida (1929). O Canal 100 e os cine-jornais de Primo Carbonari e Jean Manzon são um prolongamento do período da cavação, sendo mostrados nos cinemas até o final dos anos 1970, quando desistem de competir com a instantaneidade dos telejornais. Invasão (1915–1930) Já em 1911, empresários norte-americanos visitaram o Rio de Janeiro para sondar o mercado cinematográfico brasileiro, e logo abriram o Cinema Avenida para exibir exclusivamente filmes da Vitagraph um estúdio de cinema estadunidense, fundado por James Stuart Blackton e Albert E. Smith em 1897. A Vitagraph foi comprada pela Warner Bros. em 1925. Com a Primeira Guerra Mundial, a produção europeia se enfraquece, e os EUA passam a dominar o mercado mundial. Francisco Serrador cria a primeira grande rede de exibição nacional (salas em São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói, Belo Horizonte e Juiz de Fora), desiste de produzir e torna-se distribuidor de filmes estrangeiros. Os filmes brasileiros passam a ter dificuldades de exibição, o que leva a uma queda de produção violenta. Surgem as revistas especializadas em cinema e começam a difundir-se os mitos e estrelas de Hollywood. A partir dos anos 1930, diversos acordos comerciais estabelecem que os filmes norte-americanos passam a entrar no Brasil isentos de taxas alfandegárias. Ciclos regionais (1914–1929) Fora do eixo Rio-São Paulo, o cinema brasileiro produziu uma série de ciclos de pequena duração, todos com histórias parecidas: entusiasmo inicial, realizações precárias, algum sucesso local, dificuldades num mercado dominado pelo produto estrangeiro, final prematuro. Em Pelotas, Francisco Santos realiza o curta Os Óculos do Vovô (1913) e O Crime dos banhados (1914), provavelmente o primeiro longa, brasileiro. O ciclo mais importante é o de Recife (1923–31), onde Edson Chagas, Gentil Roiz e outros realizam 12 longas e 25 curtas, inclusive o drama Aitaré da Praia (1925), que chegou a ser exibido no Rio. Em Porto Alegre (1925–33), Eduardo Abelin, José Picoral e outros realizam 6 filmes de ficção (3 curtas e 3 longas). Do ciclo de Cataguases (Minas Gerais) destaca-se Humberto Mauro, autor de longas como Brasa Dormida (1928) e Sangue Mineiro (1929), que o colocam na vanguarda do cinema brasileiro de então. Neste período, registram-se ciclos regionais também em Belo Horizonte, Campinas, João Pessoa, Manaus e Curitiba. Surgimento do som (1929–1935) O primeiro filme sonoro brasileiro é a comédia Acabaram-se os otários (1929), de Luiz de Barros. O roteiro do próprio Luiz de Barros se baseia numa história do escritor Menotti del Picchia. Conta a história de dois caipiras e um colono italiano que chegam a São Paulo. Ingênuos, os três são enganados por malandros e caem num conto do vigário, acreditando que compraram um bonde. O filme apresenta na sua trilha sonora canções como Bem-te-vi, sol do sertão, de Paraguaçu, e Carinhoso, de Pixinguinha. Os protagonistas, Genésio Arruda e seu irmão Sebastião faziam sucesso nos palcos paulistas interpretando "caipiras", o que teria influenciado Amácio Mazzaropi, segundo ele próprio, a fazer o mesmo. No começo dos anos 1930, o cinema brasileiro passa por uma rápida fase otimista, já que os "talkies" (filmes falados) de Hollywood têm dificuldades de entrar no mercado brasileiro, por deficiência das salas e pelo problema da língua. Em 1930 – 1931 são produzidos quase 30 longas de ficção, mas em função dos custos, a produção volta a se concentrar no Rio e em São Paulo. Surgem no Rio as produtoras Cinédia, de Adhemar Gonzaga, e Brasil Vita Filmes, de Cármen Santos. Humberto Mauro, já o maior diretor de cinema do país, realiza para a Cinédia sua obra-prima Ganga bruta (1933) e para a Brasil Vita Filmes o sucesso Favela dos meus amores (1935). Domínio de Hollywood (1934–1942) As distribuidoras de filmes norte-americanos no Brasil investiram muito dinheiro em publicidade e na aparelhagem de som dos cinemas, e passam a vender seus filmes no sistema de "lote". Ao contrário do que se esperava, o público brasileiro rapidamente se acostuma a ler legendas. A revista Cine arte diz incentivar o cinema brasileiro, mas defende explicitamente a imitação dos filmes norte-americanos, sua "higiene", seu "ritmo moderno" e seu respeito pelos que têm "o direito de mandar". Em 1932 Getúlio Vargas cria a primeira lei de apoio ao cinema brasileiro, mas obrigando apenas a exibição de cine-jornais. No ano de 1934, não é produzido nenhum longa no país. Edgar Roquette-Pinto cria então o Instituto Nacional de Cinema Educativo e chama o diretor Humberto Mauro que, em 1936, produz o filme épico O Descobrimento do Brasil. De 1936 a 1964 o diretor realizaria mais de 300 documentários curta-metragem. Na ideia de imitar Hollywood, a Cinédia continua produzindo musicais: românticos como Bonequinha de Seda (1936) ou carnavalescos como Alô, alô, Brasil (1935) e Alô, Alô, Carnaval (1936), nos quais surge Carmen Miranda, logo é contratada por Hollywood. Em 1940, a Cinédia produz Pureza, com grande orçamento, efeitos especiais, equipamentos novos importados dos EUA, um absoluto fracasso. Em 1942, dos 409 filmes lançados no país, apenas 1 é brasileiro -Argila um filme do gênero drama romântico. Tentativa de industrialização (1948–1959) No final dos anos 40, a ideia de "tratar temas brasileiros com a técnica e a linguagem do melhor cinema mundial" seduz empresários e banqueiros paulistas, que se associam ao engenheiro Franco Zampari na Vera Cruz - uma grande produtora construída nos moldes de Hollywood, com enormes estúdios, muitos equipamentos, diretores europeus e elencos fixos. Alberto Cavalcanti, cineasta formado na França e Inglaterra, volta ao Brasil para trabalhar na Vera Cruz. Vários profissionais estrangeiros passam a fazer parte das produções da companhia, entre eles o fotógrafo inglês Chick Fowle, o diretor argentino (mas radicado em Londres) Tom Payne, e o diretor italiano Luciano Salce. Em 5 anos são produzidos 18 filmes, do melodrama Caiçara (1950) ao musical biográfico Tico-tico no fubá (1952), do drama histórico Sinhá Moça (1953) à comédia sofisticada É proibido beijar (1954), do policial Na Senda do Crime (1954) à comédia caipira Candinho (1954), com Mazzaropi. Apesar disso, a Vera Cruz nunca conseguiu resolver o problema da distribuição de seus filmes, e foi à falência. Pressionada pelas dívidas, vendeu os direitos de O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto, para a Columbia Pictures, e não ganhou nada por produzir o primeiro filme brasileiro de sucesso internacional. Outras companhias com o mesmo espírito da Vera Cruz, mas com menor capital, tiveram o mesmo fim: a Maristela, que produziu 24 filmes a partir de Presença de Anita (1950) e fechou em 1958; a Multifilmes, que realizou 9 longas, inclusive o primeiro filme brasileiro em cores Destino em apuros (1953), encerrou suas atividades em 1954; a Brasil Filmes, que produziu 7 filmes, entre eles O Sobrado (1956), de Walter George Durst, baseado em Erico Verissimo, e faliu em 1959. Alex

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