José Bonifácio e seus trinta anos na Europa José Bonifácio de Andrada e Silva (Santos, 13 de junho de 1763 – Niterói, 6 de abril de 1838) foi um naturalista, estadista e poeta brasileiro, conhecido pelo epíteto de Patriarca da Independência por seu papel decisivo na Independência do Brasil. Em 11 de janeiro de 2018, foi declarado oficialmente Patrono da Independência do Brasil. Origem familiar Membro de família da aristocracia brasileira, José Bonifácio nasceu em Santos, no litoral da então Capitania de São Paulo. Seu pai, Bonifácio José Ribeiro de Andrada, era casado com a prima Maria Bárbara da Silva, a segunda fortuna da cidade, e possuidor de bens no valor de oito contos de réis - cerca de 984 mil reais. Os Réis estiveram em circulação durante 400 anos. Foi moeda durante a maior parte da duração do império (incluindo o Império Português) e era uma moeda bem estável. Estudos Seu pai foi seu primeiro professor, mas em Santos não era possível ir além do ensino primário. Mudou-se para São Paulo aos catorze anos, onde frequentou aulas de gramática, retórica e filosofia, nos cursos abertos por Dom Frei Manuel da Ressurreição, dono também de boa biblioteca. Era o ensino preparatório para o ingresso na universidade em Coimbra, para onde iam os brasileiros com alguns recursos. Não havia universidades no Brasil nem qualquer prelo. Tinha 16 anos quando, com seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco, partiu do Rio de Janeiro para Portugal, matriculando-se em outubro na Universidade de Coimbra e iniciando em 30 de outubro seu curso de estudos jurídicos, acrescidos um ano mais tarde, dos de matemática e filosofia natural. Além dos cursos, leu muito Leibnitz, Newton e Descartes. Leu sobretudo Rousseau e Voltaire, mas leu também Montesquieu, Locke, Pope, Virgílio, Horácio e Camões, e se indignou contra o "monstro horrendo do despotismo". Nesse tempo escrevia poesia, seus versos apelavam para as promessas da independência recém-proclamada dos Estados Unidos. Carreira Cedo demonstrou vocação para as pesquisas científicas. José Bonifácio concluiu, em 16 de junho de 1787, seu curso de Filosofia Natural e, a 5 de julho de 1788, o de Leis. Recebeu em Portugal apoio do duque de Lafões, D. João de Bragança, que em 1780 fundara a Academia das Ciências de Lisboa e, a 8 de julho de 1789, fez, perante o Desembargo do Paço, a leitura que o habilitava a exercer o direito. O Tribunal do Desembargo do Paço, Mesa do Desembargo do Paço ou simplesmente Desembargo do Paço constituia o mais alto tribunal de justiça de Portugal, entre a sua criação no século XIV e a sua extinção em 1833. Criado pelo rei D. João II, era constituído por desembargadores, funcionando no próprio Paço Real. O Desembargo do Paço era um dos tribunais régios que constituía o sistema de monarquia polissinodal que governava Portugal no Antigo Regime. Assim, além das suas funções puramente judiciais como tribunal de justiça de última instância, tinha também atribuições executivas equivalentes às de um moderno ministério da Justiça, assegurando a administração geral de todo o sistema judicial português. Cinco meses antes, em 4 de março, José Bonifácio fora admitido como sócio livre da Academia, o que lhe abrira os caminhos de uma carreira de cientista. Por temperamento, interessava-se por estudos de que resultassem em alguma utilidade, colocando a ciência a serviço do aperfeiçoamento humano. Tinha por preceito: Nisi utile est quod facimus, stulta est gloria/ A menos que o que fazemos seja útil, a glória é tola. Excursão científica pela Europa Foi comissionado em 18 de fevereiro de 1790 para empreender, às custas do Real Erário, uma excursão científica pela Europa, para adquirir, por meio de viagens literárias e explorações filosóficas, os conhecimentos mais perfeitos de mineralogia e mais partes da filosofia e história natural. Assim, em meados de 1790, José Bonifácio estava em Paris na fase inicial da Revolução Francesa. Cursou, de setembro de 1790 a janeiro de 1791, os estudos de química e mineralogia. Seus biógrafos citam contatos com Lavoisier. Foi eleito sócio-correspondente da Sociedade Filomática de Paris e membro da Sociedade de História Natural. Já não era um simples estudante — começava a falar com voz de mestre. Partiu depois para aulas práticas na Saxônia, em Freiberg, cuja Escola de Minas frequentou em 1792, recebendo dois anos mais tarde um atestado de que havia frequentado um curso completo de orictognosia e outro de Geognosia. Ali, cursou também a disciplina de siderurgia, com o professor Abraham Gottlob Werner. Percebia o atraso de Coimbra em relação a outros centros de estudo na Europa — a escola de Freiberg marcaria sua orientação. Ali teve como amigos, Alexander von Humboldt e Leopold von Buch. Percorreu as minas do Tirol, da Estíria e da Caríntia. Foi à Pavia, na Itália, ouvir lições de Alessandro Volta; em Pádua, investigou a constituição geológica dos Montes Eugâneos, escrevendo um trabalho em 1794, chamado Viagem geognóstica aos Montes Eugâneos.- Completou os seus estudos na Suécia e na Noruega. Em 1796, foi para a Universidade de Uppsala, na Suécia, para conhecer as coleções de Torbern Bergman, criador da classificação química dos minerais. Passou a estudar fósseis e pesquisar as jazidas e minas em Arandal, Sahia, Krageroe e Laugbansita, na Suécia e na Noruega. Classificou quatro espécies minerais novas (entre as quais a petalita e o diópsido) e oito variedades que se incluíam em espécies já conhecidas — a todos esses minerais descreveu pela primeira vez e deu nome. Viajou mais de dez anos pela Europa, absorto em seus trabalhos científicos e, aos 37 anos, era um cientista conhecido e consagrado. Regressou a Portugal em setembro de 1800. Visitará, além dos países citados, a Dinamarca, a Bélgica, os Países Baixos, a Hungria, a Inglaterra e a Escócia. Dois meses após chegar a Portugal, em novembro de 1800, partiu para a Estremadura com seu irmão Martim Francisco Ribeiro de Andrada e com Carlos Antônio Napion, encarregados de pesquisas mineralógicas, sobre as quais escreveu uma memória. Mal chegado da viagem, foi designado para nova missão: examinar os pinhais reais dos Medos e Virtudes, nos terrenos de Almada e Sesimbra. Tornou-se dele admirador D. Rodrigo de Sousa Coutinho, conde de Linhares. Eram parentes distantes e se tornaram amigos. Ocupou a cátedra de Metalurgia, especialmente criada para ele, na Universidade de Coimbra, por Carta Régia de 15 de abril de 1801. Era obrigado a ali permanecer pelo prazo mínimo de seis anos. Foi nomeado intendente-geral das Minas e Metais do Reino, e membro do Tribunal de Minas, pela Carta Régia de 18 de maio de 1801, e deveria dirigir as Casas da Moeda, Minas e Bosques de todos os domínios portugueses. Por decreto de 8 de julho de 1801, recebeu o encargo de administrar as antigas minas de carvão de Buarcos (Mina do Cabo Mondego) e restabelecer as abandonadas fundições de ferro de Figueiró dos Vinhos e Avelar. Por decreto de 12 de novembro de 1801, foi feito diretor do Real Laboratório da Casa da Moeda de Lisboa e incumbido de remodelar o estabelecimento; pela Carta Régia de 1º de julho de 1802 recebeu o encargo de superintender e ativar as sementeiras de pinhais nos areais das costas marítimas; pelo alvará de 13 de julho de 1807, foi nomeado superintendente do rio Mondego e Obras Públicas de Coimbra. Mas pouco ou nada pôde concretizar, pois tinha de enfrentar a rotina portuguesa, em resistência "ora passiva a qualquer esforço renovador, ora ativa, insidiosa, mal dissimulando sentimentos subalternos de inveja ou despeito". Lutou em vão contra o desleixo da administração pública e não lhe facultaram jamais os recursos indispensáveis ao trabalho. Não desejou a cátedra e não se sentia com dons de professor. E, em Coimbra, a reforma do Marquês de Pombal "não passara afinal de bons propósitos", segundo Octávio Tarquínio de Sousa, pois a universidade não possuía museu científico. Escreveu carta em 1806 ao conde de Linhares em que dizia: "Estou doente, aflito e cansado e não posso com tantos dissabores e desleixos. Logo que acabe meu tempo em Coimbra e obtenha a minha jubilação, vou deitar-me aos pés de S.A.R. para que me deixe acabar o resto dos meus cansados dias nos sertões do Brasil, a cultivar o que é meu" Em 1808, em conjunto com Fernando Fragoso Saraiva de Vasconcelos, comandou as forças do Batalhão Acadêmico que guarneceram Coimbra, no contexto da Guerra Peninsular. A Guerra Peninsular (1807–1814) foi um conflito militar entre o Primeiro Império Francês e a aliança da Grã-Bretanha e Irlanda, do Império Espanhol e do Reino de Portugal e Algarves pelo domínio da Península Ibérica durante as Guerras Napoleónicas. O conflito começou quando os exércitos franceses e espanhóis invadiram e ocuparam Portugal em 1807, tendo voltado em 1808 após a França ter-se voltado contra a Espanha, sua aliada até então. Obteve o posto de major, chegando a alcançar a patente de tenente-coronel e depois comandante. Quando os franceses ameaçaram Lisboa, em outubro de 1810, recebeu ordens de reunir o corpo e marchar para Peniche, onde ficou até a retirada do inimigo. Na Academia Real atingiria o cargo de secretário perpétuo (1812). Sonhava com uma fábrica de aço e foi o responsável pela vinda para Portugal, e depois ao Brasil, de Guilherme von Eschwege, barão e mineralogista. Escreveu dois artigos, em 1815 e 1819, onde a palavra tecnologia é usada pela primeira vez, na língua portuguesa. Possivelmente teve seu primeiro contato com essa palavra no curso de siderurgia de Werner, em 1792, em Freiberg. Integrou o grupo de intelectuais que se reunia em torno de Domenico Vandelli, partilhando a visão de que o domínio da natureza era capaz de gerar riquezas e que, portanto, necessitava ser conhecido e explorado cientificamente. Alex

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