Maria da Conceição Tavares Maria da Conceição de Almeida Tavares (Anadia, 24 de abril de 1930 - Nova Friburgo, 8 de junho de 2024) foi uma economista, matemática e escritora luso-brasileira. Biografia Maria da Conceição nasceu em Anadia, em Aveiro, mas cresceu em Lisboa. Sua mãe era católica, e seu pai, um anarquista que abrigou refugiados da Guerra Civil Espanhola, em plena era Salazar. António de Oliveira Salazar GCIC (Vimieiro, Santa Comba Dão, 28 de abril de 1889 — Lapa, Lisboa, 27 de julho de 1970) foi um ditador nacionalista português. Após iniciar o curso de Engenharia na Universidade de Lisboa, Maria transferiu-se para Ciências Matemáticas, licenciando-se em 1953. Para fugir da ditadura salazarista em Portugal, transferiu-se para o Brasil em fevereiro de 1954, já casada com seu primeiro marido, o engenheiro Pedro José Serra Soares, e grávida de sua filha Laura. Ela se estabeleceu com a família no Rio de Janeiro. Quando chegou ao Brasil, ela começou a participar das atividades e debates promovidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Por não conseguir a equivalência de diplomas que lhe permitiria dar aulas em universidade, em 1955 começou a trabalhar como estatística no Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC), atual Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Em 1957, adotou a cidadania brasileira. Nessa época, depois de ter percebido que o conhecimento de matemática não era suficiente para o caminho profissional que pretendia seguir, matriculou-se, ainda em 1957, no curso de Economia da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. No ano seguinte, tornou-se Analista Matemática do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), onde trabalhou até 1960. Entre 1958 e 1960 ela foi também membro do Grupo Executivo de Indústria Mecânica Pesada (Geimape), um dos grupos executivos surgidos durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek. Juscelino Kubitschek de Oliveira, também conhecido pelas suas iniciais JK (Diamantina, 12 de setembro de 1902 – Resende, 22 de agosto de 1976), foi um médico, oficial da Polícia Militar mineira e político brasileiro. Foi o 21.º Presidente do Brasil, entre 1956 e 1961. O trabalho de Maria da Conceição tavares era ligado ao Conselho do Desenvolvimento, organismo central de planejamento subordinado diretamente à presidência da República, encarregado de elaborar e coordenar o Plano de Metas. O Plano de Metas foi um programa de industrialização e modernização levado a cabo no Governo Juscelino Kubitschek, na forma de um "ambicioso conjunto de objetivos setoriais" que "daria continuidade ao processo de substituição de importações que se vinha desenrolando nos dois decênios anteriores". O plano, que contemplou apenas marginalmente o setor industrial, continha metas tanto para o setor público como para o setor privado, impulsionando um período de crescimento econômico acelerado, às custas de um alto endividamento público. Apesar de ter sido realizada na presidência de Juscelino, o plano teve consequências em administrações futuras, quando aconteceram diversos planos para recuperação da economia do país. Maria da Conceição Tavares escreveu centenas de artigos e vários livros, destacando-se Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil – Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro, de 1972. O livro foi escrito no fim dos anos 1960, quando chefiava o escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil. Em outubro de 1968, foi designada para o escritório da Cepal no Chile, onde também foi convidada a lecionar na Escolatina, ligada à Universidade do Chile Sua presença no Chile nessa época evitou que fosse presa ou punida pelo AI-5, lançado em dezembro de 1968. Em outubro de 1971 licencia-se da Cepal para iniciar uma pós-graduação na Sorbonne em Paris.Com a piora da situação econômica, voltou ao Chile e passou a trabalhar, entre maio de 1972 e março de 1973, como assessora econômica voluntária do Ministro da Economia, Carlos Matus, no governo da Unidade Popular do Presidente Salvador Allende. Em fins de 1973, foi para a Universidade Autônoma do México como professora visitante, e trabalhou no escritório da Cepal daquele país durante o ano de 1974. Em novembro de 1974, quando se preparava para embarcar do Galeão para uma reunião em Santiago, foi detida e ficou alguns dias sequestrada pelos órgãos da repressão da Ditadura Militar. Ela foi liberada por intervenção direta do ministros Severo Gomes, da Indústria e Comércio, e Mário Henrique Simonsen, da Fazenda, junto ao Presidente Ernesto Geisel. Nos anos 1980, Maria da Conceição Tavares era um dos principais nomes da assessoria econômica PMDB e lecionava no Instituto de Economia da Unicamp, onde ela ajudara a implantar os cursos de mestrado e doutorado do departamento. econômica PMDB e lecionava no Instituto de Economia da Unicamp, onde ela ajudara a implantar os cursos de mestrado e doutorado do departamento. Dois dos seus colegas professores de economia na Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo e João Manuel Cardoso de Mello, trabalharam no assessoramento do Ministro da Fazenda Dilson Funaro na elaboração do Plano Cruzado, programa do governo Sarney destinado a combater a hiperinflação da época com, entre outras coisas, a aplicação de congelamentos de preços. A eclética equipe econômica contava com futuros elaboradores do Plano Real, como Pérsio Arida e André Lara Resende, que haviam assumido cargos na diretoria do Banco Central para auxiliar no Plano Cruzado e pertenciam a um departamento de economia como o da Puc-Rio, de tendência liberal e não desenvolvimentista. Entretanto, foi a imagem de Maria da Conceição Tavares e a do seu departamento de economia que ficaram associados ao Plano Cruzado, por causa da emoção demonstrada por ela quando ocorreu o lançamento do plano, em março de 1986. Maria da Conceição Tavares emocionou-se e chorou em rede nacional por considerar que de partida o Plano Cruzado não era prejudicial aos assalariados e desfavorecidos da sociedade brasileira. Em uma entrevista de 2015, ela disse que se comoveu por ser o Plano Cruzado, o primeiro plano anti-inflacionário que não prejudicava o trabalhador; que depois "foi uma experiência amarga, e capotou tudo de maneira estrondosa". Entre junho de 1993 e setembro de 2004 assinou a coluna Lições Contemporâneas para o jornal Folha de São Paulo. Inicialmente seus textos eram publicados a cada semana, mas depois passou dividir a coluna com seus colegas economistas, Aloizio Mercadante, Luciano Coutinho e Luiz Gonzaga Belluzzo. Maria da Conceição, desde sempre, foi uma crítica voraz do neoliberalismo e defensora do “desenvolvimento econômico inclusivo”. Em parte, por conta disso, ela também foi contrária ao Plano Real, que considerava muito liberal. Em artigo para a Folha de S.Paulo de 4 de setembro de 1994, criticou o Plano Real, ressaltando as perdas salariais ocasionadas pelos índices adotados para os reajustes dos salários e sobrevalorização cambial. Tendo sido eleita deputada federal pelo PT do Rio de Janeiro em 1994, se tornaria uma das críticas mais contundentes da orientação econômica do governo FHC. Maria da Conceição Tavares posicionou-se contra a formatação do programa Bolsa Família. Para ela, a focalização seria uma experiência fracassada, empurrada goela abaixo de países latinos pelo Banco Mundial. Maria da Conceição Tavares chamou os criadores da "Agenda Perdida" (José Alexandre Scheinkman, Ricardo Paes de Barros e Marcos Lisboa) de "débeis mentais". O Ministro da Fazenda Antonio Palocci defendeu o programa e seu formato, dizendo que "A focalização é uma questão de bom senso e não de política de direita ou de esquerda". Durante uma entrevista em 2007, Maria da Conceição Tavares apontou que o dólar valorizado era um paradoxo, bom para os trabalhadores mas ruim para a indústria.Em 2010, criticou a proposta de criação Fundo Soberano brasileiro. Na eleição presidencial de 2010, Maria da Conceição Tavares viu dois ex-alunos seus chegarem ao segundo turno; mesmo amiga pessoal de José Serra, avisou-o que votaria em Dilma Rousseff. Em 2016, se manifestou contra a aprovação da PEC do Teto dos Gastos Públicos, a qual, segundo ela, iria contra até mesmo os preceitos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao longo de 60 anos, formou gerações de economistas e líderes políticos brasileiros, entre eles Dilma Rouseff, José Serra, Carlos Lessa, Edward Amadeo, Aloísio Teixeira, Luciano Coutinho, Luís Gonzaga Beluzzo e João Manuel Cardoso de Melo. Era torcedora apaixonada do Vasco da Gama. Em setembro de 2018, foi lançado um documentário sobre sua vida, dirigido por José Mariani, com a duração de 75 minutos. Em 2021, ficou subitamente popular nas redes sociais, quando usuários começaram a compartilhar trechos de entrevistas e aulas gravadas suas, particularmente uma aula de economia política ministrada na Unicamp em 1992. Um trecho tirado de uma entrevista no programa Roda Viva da TV Cultura, em 1995, viralizou no aplicativo TikTok: "Se você não se preocupa com justiça social, com quem paga a conta, você não é um economista sério. Você é um tecnocrata". Alex

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog