Bumba meu boi Bumba meu boi ou boi-bumbá é uma festa do folclore popular brasileiro, com personagens humanos e animais fantásticos, que gira em torno de uma lenda sobre a morte e ressurreição de um boi. A festa tem ligações com diversas tradições, africanas, indígenas e europeias, inclusive com festas religiosas católicas, sendo associada fortemente ao período de festas juninas. Manifestações culturais e religiosas em torno da figura do boi existiram em diversas culturas antigas pelo mundo. Embora com gênese no Piauí -em 2023, o Bumba Meu Boi declarado patrimônio cultural imaterial do estado - e tido seus primeiros registros em Pernambuco, é mais popular no Maranhão. O bumba meu boi maranhense recebeu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o título de Patrimônio Cultural do Brasil, e o de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. No Maranhão são encontrados aproximadamente cem grupos de bumba-meu-boi. Cada um tem características próprias que se manifestam no vestuário, na escolha dos instrumentos, no tipo de cadência da música (“toadas”) e na coreografia. O bumba-meu-boi envolve a devoção aos santos juninos: São João, São Pedro e São Marçal, e é a mais importante manifestação da cultura popular do estado, atraindo milhares de pessoas. Ao espalhar-se pelo país, a manifestação adquire nomes, ritmos, formas de apresentação, indumentárias, personagens, instrumentos, adereços e temas diferentes. Em Pernambuco é chamado boi-calemba ou bumbá; no Maranhão, Rio Grande do Norte, Alagoas e Piauí é chamado bumba meu boi; no Ceará, é boi de reis, boi-surubim e boi-zumbi; na Bahia é boi-janeiro, boi-estrela-do-mar e mulinha-de-ouro; em Minas Gerais e no Rio de Janeiro é bumba ou folguedo-do-boi; no Espírito Santo é boi de reis; em São Paulo é boi de jacá e dança-do-boi; no Pará, Rondônia e Amazonas é boi-bumbá; no Paraná e em Santa Catarina é boi-de-mourão ou boi-de-mamão; e no Rio Grande do Sul é bumba, boizinho ou boi-mamão. Seu primeiro registro ocorre num jornal do Recife, no ano de 1840. A história econômica e social, a memória oral, as narrativas, as lendas e mitos de fundação de origem negra e indígena apontam que a história do surgimento dessa festa veio de um episódio ocorrido no período da dominação holandesa no estado de Pernambuco, mais precisamente no Recife. Esse acontecimento é denominado de episódio do Boi Voador, e que, a partir daí, teria evoluído para uma lenda com uma história mais elaborada tal como é hoje. Boi voador é um episódio ocorrido na antiga Cidade Maurícia, atual Recife, no estado de Pernambuco, à época do Brasil holandês. É narrado por frei Manuel Calado no seu "O Valeroso Lucideno" (1648), que dele foi testemunha ocular, e entrou na memória coletiva do povo. No contexto das Invasões holandesas no Brasil, dentre as grandes obras desenvolvidas durante a urbanização da chamada Cidade Maurícia, pelo administrador da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, conde João Maurício de Nassau, destacam-se a construção de duas pontes sobre o rio Capibaribe. A primeira unia o Recife à cidade Maurícia, na altura da atual ponte Maurício de Nassau, e uma segunda tinha a sua cabeceira leste no Palácio da Boa Vista e se estendia até ao continente. Ambas obedeciam a projeto encaminhado em 31 de março de 1641 ao Conselho dos XIX. Em fins de 1642 haviam sido concluídos "quinze pilares e a cabeceira de pedra do lado de Maurícia e parte de madeira correspondente pronta para ser assentada, já estando postas várias vigas de um pilar para o outro". No início do ano seguinte, por dificuldades na execução dos trabalhos no trecho mais profundo do rio, as obras estiveram suspensas. Tal fato veio provocar um censura por escrito do Conselho dos XIX que, em carta datada de Amsterdã em 24 de outubro de 1643, indagava em tom irônico: "(...) como não recebemos há muito tempo notícia da ponte faz-nos isto pensar que a mesma nunca será terminada". As críticas do povo também não se fizeram esperar, tornando-se voz comum nas ruas que seria mais fácil um boi voar, do que a ponte ser terminada... Nassau resolveu tomar a si a tarefa, utilizando-se para isso de seus próprios recursos. Para os montantes da ponte foram empregadas estacas de madeira, "com 40 a 50 pés (12 a 15 metros) de comprimento, impermeáveis à água pela dureza", tendo sido cravadas no leito do rio, com auxílio de martelões, umas verticais outras oblíquas, para obedecerem a correnteza, na profundidade de até doze pés (3,66 metros). O historiador pernambucano José Antônio Gonsalves de Mello, com base na narrativa de frei Manuel Calado, observa que, no domingo, 28 de fevereiro de 1644, estava a ponte concluída, "(...) podendo-se cavalgar por ela ou atravessá-la a pé". A estrutura dispunha de duas cabeceiras em pedra e quinze pilares do mesmo material, completada por dez outras de madeira. Em suas cabeceiras, conforme frei Manuel Calado, foram esculpidas numa extremidade as armas do Príncipe de Orange e as da Casa de Nassau e, na outra, foi gravada em pedra a inscrição: "Fundabat me illustrissimus Heros Ioannes Mauricius Comes Nassaviae, Ec. Dum In Brasilia Terra Supremu Principatum Imperiumque Teneret.Anno Dni. MDCXL". Conforme a crónica de frei Manuel Calado, a fim de obter um maior número de pessoas pagando pedágio na ponte, no dia da sua inauguração, Nassau havia feito anunciar que um boi manso, pertencente Melchior Álvares, iria voar. Para a festa, para a qual foram convidados os membros do Supremo Conselho, mandou abater e esfolar um boi, e encher-lhe a pele de erva seca, tendo posto esta encoberta no alto de uma galeria que tinha edificada no seu jardim. Pediu a Melchior Álvares emprestado um boi muito manso que aquele tinha, e o fez subir ao alto da galeria e, depois de visto pelo grande número de pessoas presentes, mandou-o fechar em um aposento, de onde tiraram o outro couro de boi cheio de palha, e o fizeram vir voando por umas cordas com um engenho, para grande admiração de todos. Tanta gente passou de uma para outra parte da ponte que, naquela tarde, rendeu mil e oitocentos florins, não pagando cada pessoa mais que duas placas à ida, e duas à vinda.[2] O episódio é recordado, entre outros, numa canção de Chico Buarque, "Boi Voador Não Pode". Dá nome ainda a um conceituado grupo teatral.[3] Enredo Existem algumas variações a respeito da lenda do boi. A história mais comum aborda a escrava Catirina (ou Catarina), grávida, que pede ao marido Chico (ou Pai Francisco) para comer língua de boi. O escravo atende ao desejo da esposa, matando o boi, e sendo preso a mando do dono da fazenda. Com a ajuda de curandeiros, o boi é então ressuscitado.[3] Dependendo da versão, outros personagens podem ser incorporados, tais como: Battião, Arlequim, Pastorinha, Turtuqué, o engenheiro, o padre, o médico, o diabo, entre outros. Quase todos quase sempre interpretados por homens, que se travestem para compor os personagens femininos.[3] Em algumas versões, Pai Chico chama-se Mateus[9] e o boi não é morto por ele, mas apenas se perde e acaba morto no decorrer da história, sendo também ressuscitado no fim.[9] Concepção A essência da lenda enlaça a sátira, a comédia, a tragédia e o drama, e demonstra sempre o contraste entre a fragilidade do homem e a força bruta de um boi. Esta essência se originou da lenda de Catirina e Pai Francisco, de origem nordestina. Ao ser levada para a região Norte, sofreu adaptação à realidade amazônica, e faz reverência ao boi como se esse fosse nativo da floresta Amazônica (o que é historicamente incorreto, pois o gado bovino não é nativo das Américas), também exaltando a alegria, sinergia e força das festas coletivas indígenas. Personagens Bumba-Meu-Boi Mimoso, de São Bento, no Maranhão, em apresentação O Capitão é o comandante do espetáculo. Há também Francisco e Catirina, personagens bastante conhecidos que apresentam os bichos, cantam e dançam de forma cômica.[9] Existem vários personagens e variam bastante entre os diferentes grupos, mas os principais são os seguintes: Amo: representa o papel do dono da fazenda, comanda o grupo com auxílio de um apito e um maracá (maracá do amo) canta as toadas principais; Pai: Chico ou Mateus Mãe: Catirina ou Catarina Boi: é a principal figura, consiste numa armação de madeira em forma de touro, coberta de veludo bordado. Prende-se, à armação, uma saia de tecido colorido. A pessoa que fica dentro e conduz o boi é chamado miolo do boi; Vaqueiros: são também conhecidos por rajados. Nos bois de zabumba, são chamados caboclos de fita. Em alguns bois, existe o primeiro vaqueiro, a quem o fazendeiro delega a responsabilidade de encontrar pai Chico e o boi sumido, e seus ajudantes, que também são chamados vaqueiros; Índios, índias e caboclos: têm a missão de localizar e prender Pai Chico. Na apresentação do boi, proporcionam um belo efeito visual, devido à beleza de suas roupas e da coreografia que realizam. Alguns bois, principalmente os grupos de sotaque da ilha, possuem o caboclo real, ou caboclo de pena, que é a mais rica indumentária do boi; Burrinha: aparece em alguns grupos de bumba meu boi. Trata-se de um cavalinho ou burrinho pequeno, com um furo no centro por onde entra o brincante. A burrinha fica pendurada nos ombros do brincante por tiras similares a um suspensório; Cazumbá: Personagem divertido, às vezes assustador, que usa batas coloridas e máscaras de formatos e temática muito variada. Não são todos os grupos de bumba meu boi que possuem cazumbás. Instrumentos Os bois de influência predominantemente indígena, bois de matraca, utilizam principalmente os seguintes instrumentos: maracá: instrumento feito de lata, cheio de chumbinhos ou contas de Santa Maria. É um instrumento de origem tanto africana como indígena; matraca: feita de madeira, principalmente pau d'arco, é tocada batendo-se uma contra a outra; pandeirão: pandeiro grande, coberto geralmente de couro de cabra. Alguns têm mais de 1 metro de diâmetro e cerca de 10 cm de altura. São afinados a fogo. tambor onça: É uma espécie de cuíca, toca-se puxando uma vareta que fica presa ao couro e dentro do instrumento. Imita o urro do boi, ou da onça. Os bois de zabumba utilizam principalmente: tamborinho: pequeno tambor coberto de couro de bicho. O mais comum é usar couro de cutia. É tocado com a ponta dos dedos. zabumba: é um grande tambor, conhecido também como bumbo, é um instrumento tipicamente africano; tambor de fogo: feito de uma tora de madeira ocada à fogo e coberto por um couro cru de boi preso à tora por cravelhas. É um instrumento tipicamente africano; Os bois de orquestra têm instrumentação muito variada: utilizam instrumentos de sopro como saxofones, trombones, clarinetas e pistões; banjos, bumbos e taróis, também mara. Festival Folclórico de Parintins O Festival Folclórico de Parintins é um festival de boi-bumbá que acontece todos os anos na cidade de Parintins, no interior do Amazonas. É considerado Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).[10]

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