Será a Síndrome de Paris apenas um mito? Síndrome de Paris é um distúrbio psicológico transitório exibido por alguns indivíduos que visitam Paris ou outro local decorrente do choque extremo ao descobrir que o local visitado não é aquilo que fora idealizado. É caracterizada por uma série de sintomas psiquiátricos, como estado agudo de delírio, alucinações, sentimentos de perseguição (percepção de ser vítima de preconceito, agressão ou hostilidade dos outros), desrealização, despersonalização, ansiedade, e também manifestações psicossomáticas, tais como tontura, taquicardia, sudorese e vômito. A condição é comumente vista como uma forma grave de choque cultural. História Em 1991, o psiquiatra Hiroaki Ota publicou um livro "Síndrome de Paris", e desde então esse sintoma começou a ser reconhecido. Em 2004, um artigo de co-autoria de psiquiatras franceses e Ota foi publicado na revista psiquiátrica francesa Nervure, e posteriormente em jornais franceses como o Libération e na mídia internacional como a BBC. Hiroaki Ota, foi um psiquiatra japonês que trabalhou na França, e é creditado como a primeira pessoa a diagnosticar a doença, em 1986. No entanto, mais tarde o trabalho feito por Youcef Mahmoudia, médico do hospital Hôtel-Dieu de Paris, indica que a síndrome de Paris é "uma manifestação de psicopatologia relacionada à viagem, ao invés de uma síndrome do viajante". Ele teorizou que a excitação resultante de visitar Paris faz o coração acelerar, causando tontura e falta de ar, o que resulta em alucinações. Existe, também a Síndrome de Stendhal, ou síndrome de Florence uma condição psicossomática que envolve taquicardia, desmaios, confusão e até alucinações, que supostamente ocorre quando os indivíduos são expostos a objetos, obras de arte ou fenômenos de grande beleza. Um diagnóstico questionado O doutor Hiroaki Ōta especifica que os pacientes afetados por esta síndrome geralmente têm um histórico de esquizofrenia, seu diagnóstico é conhecido, mas questionado. “É descrito como muito japonês quando se trata de todas as culturas e até dos franceses quando vão de uma cidade para outra”, explica o psiquiatra Philip Gorwood. A Síndrome de Paris ocorre pelo fosso entre a realidade e a sua visão idealizada da cidade, como a Montparnasse dos loucos anos 20 ou a Paris de Amélie Poulain, os turistas ficam desiludidos e desestabilizados pela imagem de Paris no estrangeiro, particularmente no Japão. Em 2016, um periódico identificou dois tipos da condição: aqueles que têm histórico anterior de problemas psiquiátricos e aqueles sem histórico mórbido que apresentam transtorno de estresse pós-traumático de expressão tardia. A particular sensibilidade dos japoneses poderá dever-se à popularidade de Paris na cultura japonesa, em particular ao fato de a publicidade japonesa propagar uma imagem idealizada desta cidade que difere da realidade que os turistas descobrem. Mario Renoux, presidente da Associação Médica Franco-Japonesa, declarou em 2004, que as revistas japonesas foram as principais responsáveis pela criação desta síndrome. Ele diz que a mídia japonesa, especialmente as revistas, muitas vezes representam Paris como um lugar onde a maioria das pessoas na rua parece modelos ultra magras e onde a maioria das mulheres se veste com marcas de alta costura, enquanto, na realidade, as marcas francesas de alta costura visam principalmente consumidores estrangeiros e que a população francesa tem muito mais excesso de peso do que a população japonesa, na realidade nem Van Gogh, nem as modelos estão nas esquinas de Paris. Nessa visão, a desordem é causada por representações positivas da cidade na cultura popular, o que leva a uma imensa decepção, pois a realidade de vivenciar Paris é muito diferente das expectativas. Os turistas são confrontados com uma cidade superlotada e cheia de lixo, especialmente se comparada a uma metrópole japonesa. Porém, segundo Youcef Mahmoudia, os casos reais observados de estado delirante são raros, sendo mais geralmente um estado temporário de ansiedade. Apenas cerca de cinquenta viajantes patológicos são hospitalizados anualmente no Hôtel-Dieu, e a maioria são franceses, sendo apenas 3 a 5% japoneses (ou seja, aproximadamente dois casos por ano). Embora a BBC tenha relatado em 2006 que a embaixada japonesa em Paris tinha uma "linha direta 24 horas para aqueles que sofrem de choque cultural grave", a embaixada japonesa afirma que tal linha direta não existe. Em 2014, a Bloomberg Pursuits relatou que a síndrome afetou alguns dos milhões de turistas chineses anuais em Paris. Jean-François Zhou, presidente da associação de agências de viagens chinesas na França, disse que "os chineses romantizam a França, eles conhecem a literatura francesa e as histórias de amor francesas... Mas alguns deles acabam chorando, jurando que nunca mais voltarão." O artigo citou uma pesquisa de 2012 do Paris Tourism Office, na qual segurança e limpeza receberam pontuações baixas. No entanto, Michel Lejoyeux, chefe de psiquiatria do Hospital Bichat-Claude Bernard em Paris, observou em uma entrevista que "a síndrome do viajante é uma história antiga" e apontou para a síndrome de Stendhal que, inversamente, é um conjunto de sintomas decorrentes de uma experiência turística extremamente positiva. Possíveis gatilhos Os autores do primeiro artigo publicado sobre o assunto em 2004 citam as seguintes situações como fatores que se combinam para causar o fenômeno. Lembrando que qualquer um em qualquer lugar do mundo pode sentir os sintomas da Síndrome de Paris. A barreira do idioma, esta é considerada a causa principal e acredita-se que cause as demais. Além das muitas expressões idiomáticas do dia-a-dia, que perdem o seu significado e substância quando traduzidas, aumentando a confusão daqueles que não estão familiarizados com elas. Por fim, a sobrecarga de tempo e energia representada por uma viagem de negócios ou de férias, onde procuramos encaixar demasiadas coisas em cada momento de uma estadia, bem como os efeitos da diferença de fuso-horário, contribuem geralmente para o psicológico desestabilização de certos visitantes. Alex

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