Franz Kafka: 2° parte-Para entender Kafka e sua obra
A obra de Kafka é vista como pessimista segundo o escrito americano Kurt Vonnegut Jr. (Indianápolis, 11 de novembro de 1922 — Manhattan, 11 de abril de 2007), em Kafka o que começa mal tende a ficar infinitamente pior.
Estilo & Temas
Kafka chamou de "irmão"Fiódor Dostoiévski(Moscou/Moscovo, 30 de outubro de 1821 - São Petersburgo, 28 de janeiro de 1881), a obra dos dois gênios frequentemente é paralelizada.
O poeta W. H. Auden chamou Kafka de "o Dante do século XX"; o romancista Vladimir Nabokov colocou-o entre os maiores escritores do século XX.
Gabriel García Márquez comentou que a leitura de A Metamorfose lhe mostrou que "era possível escrever de uma forma diferente".
O tema central da obra de Kafka, demonstrado pela primeira vez no conto O Julgamento, é o conflito entre pai e filho: a culpa sentida pelo filho é aliviada através do sofrimento e da reparação. Outros temas e arquétipos importantes incluem alienação, brutalidades física e psicológica, personagens com missões aterrorizantes e transformações místicas, como em A Metamorfose.
O estilo de Kafka foi comparado ao de Heinrich von Kleist(*) ainda em 1916, em uma resenha de A Metamorfose e O Foguista, por Oscar Walzel no Berliner Beiträge. A natureza da prosa de Kafka também abre espaço para diversas interpretações e os críticos já a colocaram em inúmeras escolas literárias.
Os marxistas, por exemplo, já tiveram grandes desentendimento sobre como interpretar as obras de Kafka. Alguns acusaram-no de distorcer a realidade, enquanto outros afirmam que ele estava criticando o capitalismo.
A desesperança e o absurdo comuns em suas obras são vistos como simbolismos existencialistas.
Alguns dos livros de Kafka são influenciados pelo expressionismo, apesar de a maior parte de sua produção literária ser associada com o gênero experimental do modernismo.
Kafka também explora a questão dos conflito do homem com a burocracia.
Wiliam Burrows afirma que o foco da obra de Kafka são os conceitos de luta, dor, solidão e a necessidade de relações.
Outros, como Thomas Mann, veem a obra de Kafka como uma alegoria religiosa: uma missão, metafísica por natureza, para Deus.
De acordo com Gilles Deleuze , os temas de alienação e perseguição, apesar de presentes na obra de Kafka, têm sido superestimados pelos críticos. Ele argumenta que a obra de Kafka é mais cautelosa e subversiva – e mais divertida – do que pode parecer à primeira vista.
Ele ressalta que ler a sua obra focando na futilidade das lutas dos personagens revela a jogada humorística de Kafka; ele não está necessariamente comentando sobre os próprios problemas, e sim mostrando como as pessoas tendem a inventar problemas.
O escritor Milan Kundera sugere que o humor surrealista de Kafka seja uma inversão do estilo de Dostoiévski, que apresentou personagens punidas por algum crime.
Na obra de Kafka, uma personagem é punida mesmo que nenhum crime tenha sido cometido.
Tentativas de identificar o papel da lei na sua ficção e as influências que Kafka teve para criar o pano de fundo jurídico de seus livros foram feitas. A maior parte das interpretações considera os aspectos da lei e da legalidade como importantes para sua obra, na qual o sistema legal é muitas vezes opressivo.
A lei na obra de Kafka, mais do que representar qualquer entidade política ou legal, geralmente é interpretada como a representação de uma variedade de forças anônimas e incompreensíveis.
Forças estas que são escondidas do indivíduo, mas que controlam a vida das pessoas, que são vítimas inocentes de sistemas que vão além de seus controles.
Críticos que defendem essa interpretação absurdista citam circunstâncias em que Kafka se descreveu em conflito com um universo absurdo, como nessa entrada de seu diário:
“Preso entre quatro paredes de mim mesmo, descubro-me um emigrante preso em um país estrangeiro... vejo minha família como alienígenas cujos costumes, ritos e linguagem estrangeiros desafiaram minha compreensão... apesar de eu não querê-lo, eles forçaram-me a participar de seus rituais bizarros... não pude resistir.”
De qualquer modo, James Hawes argumenta que muitas descrições de Kafka sobre procedimentos legais em O Processo são baseados em descrições precisas e detalhadas de processos criminais alemães e austríacos da época, que foram mais inquisitoriais do que legais – com o mesmo apelo metafísico e absurdista, a confusão e a atmosfera de pesadelo encontrados na obra de Kafka.
Apesar de trabalhar com seguros, Kafka era "particularmente inteirado dos debates legais de sua época".
Problemas de tradução
Kafka muitas vezes utilizou-se de uma característica particular da língua alemã com a qual pode-se escrever livremente longas frases, as quais podem chegar até a uma página de extensão.
Dessa forma as frases de Kafka impactam o leitor antes mesmo de serem concluídas – sendo o fim o foco e o significado. Isso ocorre graças à construção das orações subordinadas no alemão, que requere que o verbo seja colocado ao fim da frase.
Essas características são de difícil tradução não só para o português como para diversas outras línguas, como o inglês, o que faz com que o tradutor precise buscar uma característica linguística com um efeito pelo menos parecido com o encontrado no texto original.
A ordem sintática alemã oferece diversas formas de traduzir-se. Um exemplo é a primeira frase de A Metamorfose, crucial para o entendimento de toda a história:
“ Als Gregor Samsa eines Morgens aus unruhigen Traumen erwachte fand er sich in seinem Bett zu einem ungeheuren Ungeziefer verwandelt. ”
“ Quando certa manhã Gregor Samsa de sonhos intranquilos acordou, metamorfoseado em sua cama num inseto monstruoso encontrou-se.”
Outro problema para os tradutores é verter a característica de Kafka de usar expressões intencionalmente ambíguas e que na frase encaixam-se perfeitamente, em todos os sentidos. Um exemplo é encontrado na primeira frase de A Metamorfose.
Os tradutores geralmente traduzem a palavra Ungeziefer como "inseto", ou "inseto monstruoso"; no alemão meio coloquial de Kafka, entretanto, Ungeziefer significava literalmente "um animal insuficientemente limpo para o sacrifício";no alemão moderno significa "verme", "inseto". Às vezes é usado coloquialmente como "bicho" – um termo bastante genérico, ao contrário do termo científico "inseto".
A intenção de Kafka não era classificar Gregor em nenhum grupo social através das palavras que usava, mas demonstrar simplesmente o nojo que Gregor tinha de sua metamorfose.
Outro exemplo é o uso de Kafka do substantivo Verkehr na frase final de O Veredicto.
Verkehr significa literalmente intercurso, "cruzar", e, em português e inglês, pode ter tanto uma conotação sexual como não; além do mais, é usado para significa transporte ou tráfico.
A frase pode ser traduzida como: "Naquele momento, um fluxo interminável de tráfego sobre a ponte cruzou".
A ambiguidade de Verkehr recebe ainda mais destaque devido à confissão que Kafka fez a Brod de que quando escreveu essa frase estava pensando em "uma ejaculação violenta".
As traduções para o português geralmente distinguem-se das traduções literais, principalmente as que receberam grande destaque, como as do tradutor brasileiro Modesto Carone, direto do alemão. Explicando sua escolha por construções simples e comuns na tradução de O Processo, no posfácio, Carone disse que verter literalmente técnicas comuns do alemão para o português causaria uma estranheza não encontrada no texto original, cuja simplicidade abre espaço à dúvida no momento em que o que primeiro foi deixado claro de forma simples passa a ser desconstruído.
Legado
Toda a obra publicada de Kafka, com exceção de algumas cartas que escreveu em tcheco para Milena Jesenská, foi escrita em alemão. O pouco que foi publicado em sua vida atraiu pouca atenção pública.
Kafka não terminou nenhum de seus romances maiores e queimou cerca de 90% da sua própria obra,grande parte durante o período em que viveu em Berlim com Diamant, que ajudou-lhe a queimar os rascunhos.
Contos
As primeiras obras publicadas de Kafka foram oito contos que apareceram em 1908 na primeira edição do jornal litário Hyperion, sob o título de Contemplação. Escreveu o conto Descrição de uma Luta em 1904.
Em um repente criativo na noite de 22 de setembro de 1912, Kafka escreveu o conto O Veredicto e o dedicou a Felice Bauer.
Esse conto é frequentemente considerado a obra de avanço para a escrita de Kafka.
Trata da relação conturbada de um filho e seu pai dominante, a qual enfrenta uma nova fase após o noivado de seu filho.Kafka mais tarde revelou estar escrevendo em "completa abertura de corpo e alma;"um conto que "desenvolveu-se em um nascimento verdadeiro, coberto de sujeira e lodo".
Em 1912, Kafka escreveu o conto A Metamorfose, publicado em 1915 em Leipzig. Os críticos consideram a obra uma das obras essenciais da ficção do século XX.
O conto Na Colônia Penal, que trata de um elaborado dispositivo de tortura e execução, foi escrito em outubro de 1914, revisado em 1918 e publicado em Leipzig durante outubro de 1919.
O conto "Um Artista da Fome", publicado no periódico Die neue Rundschau em 1924, narra a história de um protagonista fracassado cuja grande façanha era a de poder passar fome por vários dias.
Seu último conto, "Josefina, a cantora ou o Povo dos Ratos", também lida com a relação entre o artista e seu público.
Romances
Kafka começou o projeto para seu primeiro romance em 1912; seu primeiro capítulo é o conto O Foguista.
Kafka intitulou a obra, que permaneceu inacabada, de O Desaparecido, mas Brod o publicou, após a morte de Kafka, sob o título de Amérika.
A inspiração para o romance veio da apresentação teatral iídiche que ele assistiu no último ano e que levou-o a uma nova percepção sobre sua origem - o que, por sua vez, fez com que ele passasse a acreditar que dentro de cada um vive uma apreciação inata de sua origem.
Com um humor mais explícito e um estilo um pouco mais realista do que os encontrados na maior parte das obras de Kafka, o romance tem como base para sua trama um sistema opressivo e intocável que coloca repetidamente o protagonista em situações bizarras. Contém muitos detalhes de experiências vividas por parentes de Kafka que emigraram para a América e é a única obra para a qual Kafka destinou um final otimista.
Durante 1914, Kafka começou o romance O Processo, Kafka não concluiu o romance, apesar de ter finalizado o capítulo final. De acordo com Elias Canetti, vencedor do Prêmio Nobel e especialista em Kafka, Felice foi fundamental para o desenvolvimento da trama do romance e Kafka disse que esta era "a história dela".
De acordo com seu diário, Kafka já tinha em planejamento o romance O Castelo em 11 de junho de 1914; de qualquer modo, ele não começou a escrevê-lo até 27 de janeiro de 1922.
O protagonista é um agrimensor (de forma simplista é o profissional que mensura porções de áreas planas) chamado K., que luta por razões desconhecidas para ter acesso às misteriosas autoridades de um castelo que governa a vila.
"Kafkiano"
A escrita de Kafka inspirou a criação do termo "kafkiano", usado tanto em português como em outras línguas para descrever conceitos e situações que remetem à sua obra, principalmente O Processo e A Metamorfose. Entre os exemplos de situações usadas estão momentos quando a burocracia subjuga as pessoas, geralmente de forma surreal, evocando distorção, falta de sentido e impossibilidade de ajuda.
Personagens em uma cena kafkiana geralmente carecem de autossuficiência para escapar das situações labirínticas. Elementos kafkianos muitas vezes aparecem em obras existencialistas, mas o termo ultrapassou o meio literário e também é usado em ocorrências reais que são incompreensíveis, complexas, bizarras ou ilógicas.
Alex
Stephen Hillenburg - Carreira antes do Bob Esponja Stephen McDannell Hillenburg (Lawton, 21 de agosto de 1961 — San Marino, 26 de novembro de 2018) foi um animador, roteirista, cartunista e biólogo marinho americano, mais conhecido por ser o criador do desenho animado Bob Esponja Calça Quadrada, além de trabalhar com Joe Murray no desenho A vida moderna de Rocko, e com Arlene Klasky em Rugrats (Os anjinhos) como roteirista. Primeiros trabalhos Hillenburg fez seus primeiros trabalhos de animação, curtas-metragens The Green Beret (1991) e Wormholes (1992), enquanto estava na CalArts. The Green Beret era sobre uma escoteira com punhos enormes que derrubava casas e destruía bairros enquanto tentava vender biscoitos. Wormholes foi seu filme de tese de sete minutos, sobre a teoria da relatividade. Ele descreveu este último como "um filme de animação poético baseado em fenômenos relativísticos" em sua proposta de bolsa em 1991 para a Princess Grace Foundation, que auxilia arti...
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