Ariano Suassuna - Obra e Movimento Armorial Ariano Vilar Suassuna (João Pessoa, 16 de junho de 1927 – Recife, 23 de julho de 2014) foi um intelectual, escritor, filósofo, dramaturgo, romancista, artista plástico, ensaísta, poeta e advogado brasileiro. A produção literária engloba poesia, teatro e romances, bem como sua atividade na área da cultura em geral, estão fundamentalmente ligadas aos cenários nordestinos e à cultura popular da região, e foi um grande divulgador dessa cultura para o restante do Brasil, chamando a atenção para a literatura de cordel, os trovadores e repentistas, as artes visuais, o artesanato e a música. Seus personagens geralmente são estereótipos — o fazendeiro (coronel) tirânico e avarento, o cangaceiro violento e fora da lei que transita entre o heroísmo e a vilania, o policial corrupto, o sertanejo pobre, mas astuto, o padre serviçal dos poderosos, a falsa beata — pois assim podia deixar mais clara a estrutura da sociedade e colocar em diálogo os valores complexos, conflitantes e paradoxais que deram origem e alimentam a realidade presente. Seus textos frequentemente comentam e transformam narrativas alheias antigas e modernas, cultas e populares, e o recurso à metalinguagem, à paráfrase, à citação propositalmente deturpada é uma constante, criando escritos com múltiplos níveis de leitura possíveis, que sintetizam, discutem e dialogam com uma tradição anterior para criar uma obra nova, e onde elementos autobiográficos mais ou menos velados são recorrentes. Suassuna foi um vigoroso defensor da cultura e das tradições regionais, mas não era contrário às mudanças e às influências externas, mesmo as estrangeiras, mas não as aprovava quando vinham por imposição ou para menosprezar e inferiorizar a cultura local. Ao mesmo tempo, foi um crítico do contexto social de desigualdade e opressão do sertanejo, da violência, da pobreza e da fome endêmicas, sem, contudo, recair na panfletagem, muitas vezes exercendo a crítica através do humor e da sátira. Entendia o artista como o intérprete da sua comunidade, e por isso sua arte devia estar sintonizada intimamente com seus anseios e sua realidade, e através da arte poderia servir também como um educador. Ariano Suassuna sintetizou seus princípios dizendo: "Repelimos uma arte puramente gratuita, formalística, sem comunicação com a realidade, uma arte frívola, estéril, sem sangue e sem pensamento, covarde e indefinida diante dos abusos, dos privilégios da fria e cega vida contemporânea do mundo dos privilegiados, sem entranhas, e das sanguinárias tiranias que fingem combatê-lo. Mas repelimos também a arte alistada, demagógica, que só quer ver um lado do problema do homem, uma arte deturpada por motivos políticos, arte de propaganda, arte que agrega ao universo da obra o corpo estranho da tese, para fazer do espetáculo um libelo interessado. Acreditamos que a arte não deve ser nem gratuita, nem alistada: ela deve ser comprometida, isto é, deve manter um fecundo intercâmbio com a realidade, ser porta-voz da coletividade e do indivíduo, em consonância com o espírito profundo de nosso povo". O Movimento Armorial foi uma iniciativa artística cujo objetivo seria criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste brasileiro. Para tanto, buscava convergir e orientar todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, etc. Uma conceituação por Suassuna "A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos 'folhetos' do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus 'cantares', e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionado." Origem O escritor Raimundo Carrero (Salgueiro, 20 de dezembro de 1947), que participou da fundação do Movimento junto a Ariano, entende que o momento fundador do Movimento Armorial foi a publicação do Romance da Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, em 1971. Houve uma grande repercussão no meio literário brasileiro com a publicação do romance, e isso teria servido para popularizar o restante do trabalho coordenado por Ariano. O Movimento Armorial surgiu, portanto, sob a inspiração e direção de Ariano Suassuna, com a colaboração de diversos artistas e escritores da região Nordeste do Brasil e o apoio do Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Pernambuco. Começou no âmbito universitário, mas ganhou apoio oficial da Prefeitura do Recife e da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco. Foi lançado oficialmente, no Recife, com a realização de um concerto e uma exposição de artes plásticas na Igreja de São Pedro dos Clérigos, localizada no centro da cidade. Características e atuação O Movimento Armorial tinha a pretensão de realizar uma arte nacional erudita baseada nas raízes populares da cultura nordestina e, assim sendo, convergir diversas artes para este fim. Segundo Suassuna, sendo "armorial o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um povo, a heráldica é uma arte muito mais popular do que qualquer coisa." Desse modo, o nome adotado significou o desejo de ligação com essas heráldicas culturais brasileiras. O Movimento tem ressonâncias em diversos campos artísticos: pintura, música, literatura, cerâmica, dança, escultura, tapeçaria, arquitetura, teatro, gravura e cinema. Uma grande importância é dada aos folhetos do romanceiro popular nordestino, a chamada literatura de cordel, por achar que neles se encontra a fonte de uma arte e uma literatura que expressam as aspirações e o espírito do povo brasileiro, além de reunir três formas de arte em único gênero: as narrativas de sua poesia, a xilogravura, que ilustra suas capas — da qual o principal representante no movimento foi o artista Gilvan Samico — e a música, através do canto dos seus versos, acompanhada por viola ou rabeca. Gilvan Samico (Recife, 15 de junho de 1928 – Recife, 25 de novembro de 2013) foi um gravurista, desenhista, pintor e professor brasileiro. É considerado por muitos críticos o maior expoente da xilogravura brasileira. Segundo Ligia Vassalo: "A arte armorial parte do cordel, não como fonte única, mas como ponto de convergência que associa a música dos instrumentos, a palavra da cantoria e a imagem da xilografia segundo o ponto de vista da arte popular. O cordel é então erigido em bandeira armorial, porque reúne três setores normalmente separados: o literário, teatral e poético dos versos e narrativas; o das artes plásticas em associação com as xilogravuras da capa do cordel; o musical dos cantos e músicas que acompanham a leitura ou a recitação do texto. São também importantes para o Movimento Armorial os espetáculos populares do Nordeste, encenados ao ar livre, com personagens míticos, cantos, roupagens principescas feitas a partir de farrapos, músicas, animais misteriosos como o boi e o cavalo-marinho do bumba-meu-boi. O mamulengo ou teatro de bonecos nordestino também é uma fonte de inspiração para o Movimento, que procura, além da dramaturgia, um modo brasileiro de encenação e representação. Alex

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog