O vício de cravar espinhos nas palmas de minhas mãos Eu estava bebendo uma pl sozinho naquele boteco perto da biqueira, um clima fúnebre se abatia por lá, ninguém além de mim. Nem o dono daquele lugar estava. Quando um habitué veio em minha direção desejar-me pesâmes, entre um gole e uma tragada no meu mata-ratos, agradeci, um conhecido havia cometido suicídio. Talvez eu e o suicida tivéssemos mais em comum que o vício e quem sabe eu pudesse fazer algo se o conhecesse melhor. O suicida deixou uma carta de despedida: "Creio que o Paraíso é uma enorme prisão, uma prisão onde condenados sentam-se em cadeiras de espinhos e têm pregos martelados em suas nucas enquanto assistem 24 horas de Big Brother Brasil. Quando se vive no limite e a vida vai ficando mais selvagem, o vício se torna um 'trabalho' com horários sombrios, e você confunde viver a vida com sobreviver, preenchendo o vazio sem fundo da sua alma, afogando-se em toxina e veneno. O mundo constantemente me decepciona, mas creio que esse seja o destino de todos e sinto-me como um suicida preso num lixão caçando borboletas que não se lembrem de como era ser uma lagarta. Eu nunca fui uma boa pessoa, por que eu seria? Eu simplesmente odeio todos. Perdido dentro da minha cabeça doentia, escorregando nos termos abstratos da maneira em que eu me vejo, sou o vocalista suicida de uma banda foda, mas na realidade, passo o meu tempo amaldiçoando os meteoros que não acertam a Terra. O mundo é uma comédia para os que pensam e uma tragédia para os que sentem, e também é miserável e cheio de pessoas ainda mais miseráveis que querem uma refeição completa em 5 minutos e reclamam se essa refeição tiver gosto de merda. O mundo não é moldado por forças metafisicas, é moldado por necessidades psicológicas. Não é o bondoso Deus que mata as crianças, não é o acaso que as trucida, nem é o destino que as dá de comer aos cães. Somos nós! Nas ondas ferventes de desespero vazio, vi minha vida parece se perder num lixão pavoroso como um sonho febril contado por um imbecil. A minha tristeza é inexplicável e isto me entristece ainda mais. Meu cérebro quimicamente desequilibrado me colocou em situações e lugares sombrios onde a vida se tornava um carrossel sem dono na madrugada em que os mortos perdem seus ossos. Às vezes eu gostaria de tentar escrever coisas bonitas ou pelo menos feias, mas a minha escrita, assim como a minha vida, resume-se em deixar coisas por terminar. Talvez seja algo inerente sentir-me fascinado pela perpétua tentação da autodestruição. Há uma escuridão ao meu alcance e nesta escuridão irei rastejar pela estrada rumo à aniquilação. Há uma mancha em minha alma, uma corda em meu pescoço e um beijo de Judas em meus lábios. O prazer sempre devora a si, por isso preferi a dor porque, diferente do prazer, a dor não usa máscaras. Viver muitas vezes é tão indizivelmente chato. Não há fantasmas, nem discos voadores. Eles não podem existir, o mundo seria muito interessante se existissem. Sei lá, deve ter alguém por aí que não considere que viver se tornou tão chato e fora de moda quanto colecionar selos, mas definitivamente não sou eu. Acho que todas as pessoas tristes deveriam ter assas, mas se eu tivesse assas, não saberia para onde ir. Somente desejo que os outros fiquem com a beleza, pois coleciono impurezas. Sinto que carrego um fardo que alimenta a minha loucura, bebendo pesadelo como um vinho deslumbrante. Creio que o castigo do suicida seja antes sentar-se em cadeiras de espinhos e ter pregos martelados em suas nucas enquanto assiste 24 horas de Big Brother Brasil, seja reviver seus últimos momentos." Após deixar o bar, fui para casa. Ao abrir a porta, me deparei com um corpo, me aproximei e era eu. Eu estava bebendo uma pl naquele boteco perto da biqueira. Alex

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