Histórias em quadrinhos argentinas O dia 4 de setembro é comemorado como o Dia do Quadrinho Argentino, já que nesse dia, em 1957, apareceu o primeiro número de Hora Cero Semanal, a revista de Héctor Germán Oesterheld em cujas páginas estrearam grandes histórias como El Eternauta. A Argentina é um dos países com maior produção mundial de quadrinhos e o mais importante da América Latina. Primeiros anos As primeiras charges a aparecerem na Argentina em revistas de sátira política no final do século XIX, originalmente com painéis únicos e com textos abaixo dos desenhos com diálogos ou explicações. Uma nova linguagem A revista Caras y Caretas, fundada por Eustáquio Pellicer em 1898 e dirigida por Fray Mocho, será a primeira onde, além da sátira política, começam a ser vistas histórias costumbristas e surgiram as primeiras inclusões de balões de fala nos desenhos. Um "costumbrista" é uma pessoa (artista ou autor) que se dedica ao costumbrismo, um movimento artístico que se concentra na pintura ou interpretação da vida cotidiana e costumes locais, especialmente na cultura hispânica e latino-americana durante o século XIX. Na década de 1900, as histórias em quadrinhos continuaram a ser, na maioria, sátiras e comentários políticos, mas tiras sobre a vida cotidiana, chamadas de "cuentos vivos" (contos animados), começaram a aparecer. Nessa época, traduções de histórias em quadrinhos dos Estados Unidos, como "Cocoliche" (Happy Hooligan), de Frederick Burr Opper, surgiram na Argentina. Durante a década de 1910, a quantidade de histórias em quadrinhos produzidas na Argentina cresceu a passos largos. Em 1912, a primeira tira em quadrinhos argentina propriamente dita, com balões de fala e personagens recorrentes, Las aventuras de Viruta y Chicharrón, de Manuel Redondo, começou a ser publicada em Caras y Caretas. Já em 1916, na revista El Hogar, apareceram Las aventuras del Negro Raúl, do argentino Arturo Lanteri. O personagem se caracterizava por aspirar a uma vida que sua condição social não lhe permitia alcançar. Esta tirinha não apresentava balões, mas sim textos, quadras rimadas na parte inferior do desenho. Ainda neste ano, na revista PBT, foram publicadas As aventuras de Dom Tallarín e Dona Tortuga, obra de Oscar Soldati, com uma abordagem técnica e temática inédita no país. Fundada em 1919 por Constancio Vigil, a Billiken foi a primeira revista infantil Argentina. Suas páginas apresentavam obras de Gastón Leroux, Fola, Vidal Dávila, quadrinhos americanos, e foi a primeira a publicar o Superman. A popularidade dos quadrinhos cresceu na década de 1920, e os quadrinhos infantis ganharam popularidade. O jornal La Nación começou a publicar quadrinhos diariamente em 1920, e os quadrinhos, tanto estrangeiros quanto nacionais, foram um grande motivo para a popularidade do jornal Crítica. Em 1928, a primeira publicação contendo somente quadrinhos, a revista El Tony, começou sua história de mais de 70 anos. A década de 1930 viu a maioria dos jornais importantes publicar histórias em quadrinhos. No final da década de 1930, super-heróis dos Estados Unidos, como Superman e Batman, começaram a aparecer em revistas locais como Pif Paf (1939), dando lugar aos quadrinhos de ação. Era de Ouro Entre a década de 1940 e a década de 1960, surgiu a chamada Era de Ouro dos Quadrinhos Argentinos, quando, no final da década de 1940, a chegada à Argentina de um círculo de escritores e artistas italianos melhorou ainda mais a quantidade e a qualidade dos quadrinhos na Argentina. Entre eles estavam Mario Faustinelli, Hugo Pratt, Ivo Pavone e Dino Battaglia, que eram conhecidos como o Grupo de Veneza. Alguns argentinos, notavelmente Alberto Breccia e Solano López, foram considerados membros honorários do Grupo de Veneza. A revista Rico Tipo, de José Antonio Guillermo Divito, lançada em 16 de novembro de 1944, foi publicada até 1972. A revista Intervalo surgiu em 1945, contendo diálogos e textos mais longos em comparação com as histórias em quadrinhos editadas em outras editoras. Também em 1945, surgiu a revista Patoruzito, contendo uma série de histórias em quadrinhos infantis. Cesare Civita, por sua vez, funda a Editorial Abril na Argentina e lança a revista Salgari em 1947, onde o super-herói Misterix (da dupla Ongaro -Campani) se torna tão popular que em 1948 se decide publicar sua própria revista. Em julho de 1950, Abril também lançou a revista Cinemisterio. Em 1951, o homem que se tornaria um dos roteiristas mais importantes do país, Héctor Germán Oesterheld publicou sua primeira obra na revista Cinemisterio. Ao mesmo tempo, outra editora se uniu ao cenário editorial de histórias em quadrinhos com uma revista mensal: Pimpinela (a maioria das revistas era semanal). Nela se destacam Duval e Gordon de Wadel y Vieytes. No ano seguinte, foi publicado o primeiro sucesso de Oesterheld: Bull Rocket, com desenhos de Paul Campani da revista Misterix. Já em 1953, outra das obras mais conhecidas do roteirista começou a ser publicada na mesma revista: Sargento Kirk, com o cartunista italiano Hugo Pratt. Em 1955, Oesterheld criou a Editorial Frontera com seu irmão Jorge. Publicaram versões de Bull Rocket e Sargento Kirk. Dois anos depois, saíram as primeiras revistas da editora: Frontera e Hora Cero, que eram publicadas mensalmente e tinham a característica de conter histórias autocontidas. A maioria dos roteiros era escrita por Oesterheld e contava com numerosos cartunistas. Entre o final da década de 1950 e início da década de 1960, alguns dos quadrinhos argentinos mais importantes foram criados, El Eternauta (1957), de Héctor Oesterheld; Mort Cinder (1962), de Héctor Oesterheld e Breccia, no gênero de ação; Mafalda (1964) e Mordillo (1966), de Quino, no gênero de humor; e Anteojito y Antifaz, de García Ferré (1962), para crianças. Por volta de 1960, das seis publicações mais vendidas, somente uma era estrangeira (a revista Pato Donald). No entanto, a chegada de publicações estrangeiras, principalmente do México, com melhor qualidade de papel, tinta e preços mais baixos, desencadeou uma crise financeira na indústria argentina de quadrinhos. Várias editoras, incluindo as Ediciones Frontera de Oesterheld, tiveram que fechar ou ser vendidas, o que forçou diversos artistas e escritores a irem para o exterior. Instabilidade política Após o golpe de Estado de 1966, a indústria de quadrinhos sofreu com a censura e com recorrentes crises econômicas. A graphic novel biográfica de Che Guevara, de 1968, de Oesterheld e Breccia, foi retirada de circulação pelo governo e os originais destruídos. Mesmo assim, revistas de quadrinhos de ação como El Tony e D'Artagnan continuaram a publicar criações estrangeiras e locais. Em 1967, Nippur de Lagash, de Robin Hood (24 de janeiro de 1944 – 17 de outubro de 2021), foi um quadrinista e autor paraguaio. É conhecido principalmente por seus trabalhos clássicos em quadrinhos argentinos e, posteriormente, por seus trabalhos em quadrinhos europeus. Nippur de Lagsh estreou na revista D'Artagnan. Nippur de Lagash é uma série de histórias em quadrinhos históricas argentinas, publicada entre 1967 e 1998. É ambientada no século XXIII a.C., sobre um guerreiro homônimo fictício da Suméria. Em outubro de 1968, o Instituto Di Tella de Buenos Aires organizou a Primeira Bienal Mundial de Quadrinhos, com representação dos países com maior tradição em quadrinhos: Argentina, Estados Unidos, Brasil, Japão, Itália, França, Inglaterra e Espanha. Além disso, foi publicada a revista LD (Literatura Dibujada), fundada por Oscar Masotta. Embora de curta duração (três números entre novembro de 1968 e janeiro de 1969), foi a primeira revista a publicar ensaios, comentários e críticas sobre quadrinhos. Em 1969, Oesterheld e Alberto Breccia produziram uma segunda versão de El Eternauta na revista Gente. No entanto, os editores do semanário não ficaram totalmente satisfeitos com a história e decidiram parar de publicá-la, forçando Oesterheld a resumir o enredo e dar-lhe um final definitivo. Roberto Fontanarrosa criou Inodoro Pereyra, na revista Hortensia, de Córdoba, que se tornou uma das poucas revistas argentinas de sucesso fora de Buenos Aires. Nesse mesmo ano, em 1º de novembro, iniciou-se a publicação da Satiricón, também dedicada ao humor. Em 25 de junho de 1973, chegava ao fim uma das tiras argentinas mais reconhecidas do mundo, Mafalda. Em outubro de 1975, o governo de María Estela Martínez de Perón fechou a revista Satiricón. Os editores recorreram à justiça e, enquanto isso, lançaram uma nova revista, Chaupinela, com um tom mais moderado que sua antecessora. Em 1976 iniciou-se a ditadura, autores considerados subversivos pelo regime ditatorial foram ameaçados ou mortos. Quino, ameaçado, foi forçado a deixar o país em 1976. Em 27 de abril de 1977, enquanto trabalhava em uma sequência mais politizada de Eterauta. Oesterheld foi sequestrado pelas forças da ditadura. Presume-se que tenha sido assassinado um ano depois. Um ano depois, suas quatro filhas, todas estudantes de esquerda, tiveram o mesmo destino. Paradoxalmente, as histórias em quadrinhos argentinas começaram a ser levadas a sério. Foram estudadas como fenômeno social e artístico, grandes exposições foram realizadas e os primeiros trabalhos acadêmicos foram publicados. Os quadrinhos eram um dos meios de expressão menos controlados pelo Estado. Gradualmente, iniciou-se um ressurgimento do humor satírico, em sintonia com o clima político efervescente da década de 1970. Em meados dessa década, surgiu toda uma geração de cartunistas, inspirados pelas histórias da década de 1950. O Renascimento e a Nova Crise O retorno da democracia no final de 1983 pôs fim a anos de censura militar. Uma nova onda cultural começou em várias artes. O mês de setembro de 1984 viu nascer uma nova revista inteiramente dedicada aos quadrinhos que revolucionaria o mercado: Fierro, publicada pelas Ediciones de la Urraca. Revistas e fanzines independentes começaram a proliferar. Jovens autores, às vezes adolescentes, geralmente por meio de quadrinhos humorísticos, renovaram grande parte do panorama artístico da historieta argentina. Em 1986, surgiu em San Miguel de Tucumán a revista TRIX hemocomics, reflexo da paixão tucumana pelos quadrinhos. A Comic Magazine, a primeira revista profissional especializada em histórias em quadrinhos, começou a ser publicada em outubro de 1989. Ela apareceu irregularmente e nunca decolou, mas preencheu um espaço vago que mais tarde seria preenchido por outras publicações, abordando histórias em quadrinhos como gênero e tópicos relacionados, como cinema e televisão. No início da década de 1990, os quadrinhos de aventura pareciam estar perdendo força: seus roteiros lutavam para se renovar. Com o dólar desvalorizado, os quadrinhos estrangeiros se tornam acessíveis. Super-heróis americanos e, mais tarde, mangás, inundam o mercado. As edições importadas são mais luxuosas que as nacionais e relativamente mais baratas. Os quadrinhos argentinos estão encontrando cada vez mais dificuldade para sobreviver no mercado. Do lado econômico, os desenvolvimentos tecnológicos e a crise nacional facilitaram a disseminação de novos métodos. A maior disponibilidade de computadores pessoais permitiu que os criadores formatassem, editassem e imprimissem seus próprios trabalhos. Outros fatores que contribuíram para o boom resultaram de uma crise nos métodos tradicionais de produção e distribuição. Na década de 1990, reformas pró-comércio dificultaram a competição dos produtos locais. Sofrendo um destino semelhante ao de muitos setores da mídia e da indústria argentinas em geral, as revistas em quadrinhos ainda publicadas na década de 1980 decaíram lentamente em qualidade e desapareceram (por exemplo, Fierro, D'Artagnan, Nippur). Enquanto muitos criadores encontraram trabalho em outros países ou mudaram de profissão, outros continuaram a atingir o público local publicando e distribuindo seus próprios trabalhos. Outro efeito colateral da crise foi que muitos criadores começaram a oferecer oficinas para crianças e adolescentes porque o mercado de trabalho estava aquecido. Transmitindo seus próprios métodos, os criadores equiparam uma nova geração de criadores com técnicas de autopublicação. Os fatores culturais que os criadores citam como moldadores do boom da autopublicação incluem o desejo de ler e produzir histórias que abordem questões locais por autores locais, um forte sentido de autonomia acompanhado por uma tradição de colaboração e um compromisso com a livre expressão criativa. Competindo em um mercado difícil, os criadores argentinos experimentaram vários formatos e formas de autoajuda coletiva. No início, os trabalhos auto publicados permaneceram em cantos escuros das lojas de quadrinhos e (menos) bancas de jornal e a maioria deles não conseguiu sobreviver além da 2ª ou 3ª edição. Para enfrentar coletivamente os desafios da publicação independente, os criadores formaram a Asociación de Historietistas Independientes (Associação de Criadores Independentes de Quadrinhos, AHI), na convenção Fantabaires de 1996. Os custos às vezes são compartilhados, como no caso da editora Ex Abrupto, que copublica Suda Mery K!, uma antologia semestral, com Viñetas con Altura da Bolívia e Feroces Editores do Chile. Em 2000, o jornal Clarín incluiu El Eternauta em sua coleção La Biblioteca Argentina/Série Clássicos. Apareceu no número 24, ao lado de obras de Martín Fierro e autores como Borges, Sábato e Cortázar. Assim, a obra de Oesterheld e Solano López em particular, e os quadrinhos em geral, receberam reconhecimento significativo ao serem colocados ao lado das obras mais importantes da literatura argentina. Um ano depois, a Columba fechou. Em meados do ano anterior, havia cancelado todos os títulos que publicara durante décadas. Tentando se adaptar às novas tendências, lançou uma série de histórias em quadrinhos com alguns de seus personagens mais conhecidos. No entanto, as vendas fracas a forçaram a suspender as publicações, e as edições finais foram lançadas em maio. Assim, a editora que publicava quadrinhos há mais tempo no país, fecha as portas. Em 2003, Sergio Langer e Rubén Mira publicaram "La Nelly" no jornal Clarín, uma sátira à classe média que gira em torno de uma mulher solteira, aposentada, obstinada e pragmática. A tira permaneceria em circulação por quatorze anos. Em 2006, o Museu de Belas Artes do Chile homenageou os quadrinhos argentinos, que influenciaram e foram pioneiros em toda a América Latina, realizando três exposições em Santiago. O Museu de Desenho e Ilustração de Buenos Aires enviou material significativo para as exposições, que tiveram grande impacto no público, na imprensa e na mídia cultural em geral. Alex

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