História do socialismo: Etimologia e origens Segundo o cientista político, autor de Theories of the State (1987), Andrew Vincent, "a palavra 'socialismo' encontra sua raiz no latim sociare, que significa combinar ou compartilhar." O termo relacionado, mais técnico na lei romana e depois na medieval, era societas. Esta última palavra pode significar companheirismo, bem como a ideia mais legalista de um contrato consensual entre "homens livres". O uso inicial do termo socialismo foi reivindicado por Pierre-Henri Leroux (7 de abril de 1797 – 12 de abril de 1871), foi um filósofo e economista político francês — que alegou ter usado o termo pela primeira vez no jornal parisiense Le Globe em 1832. Leroux foi um seguidor de Henri de Saint-Simon (Paris, 17 de outubro de 1760 — Paris, 19 de maio de 1825), foi um filósofo e economista francês, um dos fundadores do socialismo moderno e teórico do socialismo utópico. O socialismo contrastava com a doutrina liberal do individualismo que enfatizava o valor moral do indivíduo enquanto enfatizava que as pessoas agem ou deveriam agir como se estivessem isoladas umas das outras. Os socialistas utópicos originais condenaram esta doutrina do individualismo por não abordar as preocupações sociais durante a Revolução Industrial, como pobreza, opressão e vasta desigualdade de renda. Eles viam sua sociedade como algo que prejudica a vida da comunidade ao basear a existência humana na competição. O socialismo era uma alternativa ao individualismo liberal baseado na propriedade compartilhada de recursos. Saint-Simon propôs o planejamento econômico, a administração científica e a aplicação da compreensão científica à organização da sociedade. Em contraste, Robert Owen propôs organizar a produção e a propriedade por meio de cooperativas. O socialismo no Reino Unido é associado a Owen, que se tornou um dos pais do movimento cooperativo. O termo se tornou corrente na década de 1840 e militantes, como Victor Considerant, usavam o termo para indicar um programa de reforma social radical antagônico à economia liberal. Victor Prosper Considerant foi um filósofo e economista politécnico francês, e sem dúvidas o mais influente dos discípulos de Charles Fourier (Besançon, 7 de Abril de 1772 – Paris, 10 de Outubro de 1837) foi um socialista francês da primeira parte do século XIX, um dos pais do cooperativismo. Foi também um crítico ferrenho do economicismo e do capitalismo de sua época, e adversário da industrialização, da civilização urbana, do liberalismo e da família baseada no matrimônio e na monogamia. A definição e o uso do termo socialismo se estabeleceram na década de 1860, substituindo conceitos como associacionista, cooperativo e mutualista que haviam sido usados como sinônimos, enquanto o comunismo caiu em desuso durante este período. Uma distinção inicial entre comunismo e socialismo era que o comunismo visava somente socializar a produção, enquanto o socialismo visava socializar tanto a produção quanto o consumo (na forma de livre acesso aos bens finais). Foi só depois da Revolução Bolchevique que o socialismo foi apropriado por Vladimir Lenin para significar um estágio entre o capitalismo e o comunismo. Ele o usou para defender o programa bolchevique da crítica marxista de que as forças produtivas do Império Russo não eram suficientemente desenvolvidas para o comunismo. A distinção entre comunismo e socialismo tornou-se saliente em 1918 depois que o Partido Operário Social-Democrata Russo renomeou-se para Partido Comunista de Toda a Rússia, interpretando comunismo especificamente como socialistas que apoiavam a política e as teorias do bolchevismo, do leninismo e mais tarde do marxismo-leninismo. Embora os partidos comunistas continuassem a se descrever como socialistas dedicados ao socialismo. Segundo o The Oxford Handbook of Karl Marx, "Marx usou muitos termos para se referir a uma sociedade pós-capitalista — humanismo positivo, socialismo, comunismo, reino da individualidade livre, associação livre de produtores, etc. Ele usou esses termos de forma totalmente intercambiável. A noção de que 'socialismo' e 'comunismo' são etapas históricas distintas é alheia à sua obra e só entrou no léxico do marxismo após sua morte". Engels argumentou que, em 1848, quando o Manifesto Comunista foi publicado, o socialismo era respeitável na Europa, enquanto o comunismo não. Os owenistas na Inglaterra e os fourieristas na França eram considerados socialistas respeitáveis, enquanto os movimentos da classe trabalhadora que "proclamavam a necessidade de uma mudança social total" se autodenominavam comunistas. Este ramo do socialismo produziu a obra comunista de Étienne Cabet na França e de Wilhelm Weitling na Alemanha. O filósofo moral britânico John Stuart Mill discutiu uma forma de socialismo econômico em um contexto liberal que mais tarde seria conhecido como socialismo liberal. Em edições posteriores de seus Princípios de Economia Política (1848), Mill argumentou ainda que "no que diz respeito à teoria econômica, não há nada em princípio que impeça uma ordem econômica baseada em políticas socialistas" e solicitou a substituição de negócios capitalistas por cooperativas de trabalhadores. Antiguidade As ideias e tradições políticas conceitualmente relacionadas ao socialismo moderno têm suas origens na antiguidade e na Idade Média. O Egito Antigo tinha um estado forte, unificado e teocrático que empregava camponeses em grandes projetos de trabalho e possuía celeiros que distribuíam grãos ao público em tempos difíceis. Este sistema de governo é às vezes chamado de "socialismo teocrático", embora seja importante distinguir entre esta ideologia e a teoria marxista do socialismo. Na Grécia Antiga, embora a propriedade privada fosse uma parte reconhecida da sociedade, ainda se entendia que as necessidades da cidade ou pólis sempre vinham antes das do proprietário individual e de sua família. Os gregos antigos também eram encorajados por seu costume de koinonia a compartilhar voluntariamente sua riqueza e propriedade com outros cidadãos, perdoar as dívidas dos devedores, servir em funções como servidores públicos sem remuneração e participar de outras ações pró-sociais. Essa ideia de koinonia poderia se expressar de diferentes maneiras em toda a Grécia Antiga, da "oligarquia comunal" de Esparta, onde os pobres podiam acessar qualquer propriedade mantida em comum. Outro costume grego antigo, a leitourgia um serviço público estabelecido pela cidade-estado por meio do qual seus membros mais ricos (sejam cidadãos ou estrangeiros residentes), mais ou menos voluntariamente, financiavam o Estado com sua riqueza pessoal. No final do século V a.C., conceitos mais radicais de propriedade comunal foram expostos na Grécia. Possivelmente em resposta a isso, Aristófanes (ca. 447 a.C. — ca. 385 a.C.) escreveu sua peça do início do século IV, Ecclesiazusae, que parodia conceitos comunistas, igualitários e ginocráticos que já eram familiares na Atenas Clássica. Na peça, as mulheres atenienses são retratadas tomando o controle do governo ateniense e proibindo toda propriedade privada. Como diz a personagem Praxágora: "Começarei tornando a terra, o dinheiro, tudo o que é propriedade privada, comum a todos." Platão escreveu em República, que defende a distribuição comum de propriedade entre a elite superior da sociedade que, semelhante a Esparta, deve viver em comunidade. A economia do Império Maurya da Índia fundado por volta de 320 a.C., existindo frouxamente até 185, sob o governo de seu primeiro imperador Chandragupta Maurya, que foi auxiliado por seu conselheiro econômico e político Kautilya, foi descrita como "uma monarquia socializada", "uma espécie de socialismo de estado" e o primeiro estado de bem-estar social do mundo. Sob o sistema Maurya, não havia propriedade privada de terras, pois todas as terras eram propriedade do rei, a quem o tributo era pago pelos Shudras, ou classe trabalhadora. Em troca, o imperador fornecia aos trabalhadores produtos agrícolas, animais, sementes, ferramentas, infraestrutura pública e armazenava alimentos em reserva para tempos de crise. Nos mundos persa e islâmico No Irã, Mazdak (falecido por volta de 524 ou 528 d.C.), um sacerdote zoroastrino e reformador político, pregou e instituiu um sistema socialista ou proto-socialista de base religiosa no contexto zoroastriano da Pérsia sassânida. Abū Dharr al-Ghifārī (falecido em 652 d.C.), um companheiro de Maomé, é creditado por alguns estudiosos, como o criador de uma forma de socialismo islâmico. Ele protestou contra o acúmulo de riqueza pela classe dominante durante o califado de Uthman e solicitou a redistribuição equitativa da riqueza. O primeiro califa muçulmano Abu Bakr introduziu um padrão mínimo garantido de renda, concedendo a cada homem, mulher e criança dez dirhams anualmente — este valor foi posteriormente aumentado para vinte dirhams, equivalente a 29,82 reais. Pensamento iluminista (século XVII — 1800) A base para o socialismo moderno se origina principalmente com a Era do Iluminismo e a ascensão do liberalismo e da Revolução Industrial. Filósofos franceses como Montesquieu, Voltaire e Rousseau e outros intelectuais europeus como Adam Smith e Immanuel Kant criticaram a competência, as políticas e o caráter tradicionais dos governos, acreditando que por meio de reformas poderiam ser feitas mudanças que beneficiassem toda a sociedade em vez de somente uma elite privilegiada. Esses pensadores do Iluminismo geralmente moderavam seus objetivos em relação à intervenção governamental, propondo que o governo deveria ser limitado em seu controle sobre os indivíduos, uma crença tipicamente associada ao sistema econômico laissez faire contemporâneo. Alguns pensadores acreditavam diferente, como os escritores franceses Jean Meslier, Étienne-Gabriel Morelly e Abbé de Mably, que formularam esquemas para resolver a desigualdade na sociedade por meio da redistribuição da riqueza e da abolição da propriedade privada. O filósofo iluminista francês Marquês de Condorcet não se opôs à existência da propriedade privada. Mas acreditava que a principal causa do sofrimento na sociedade era a falta de terra e capital das classes mais baixas e, portanto, apoiou políticas semelhantes à moderna rede de segurança social que poderia ser usada para proteger os mais vulneráveis. Em resposta às desigualdades na economia industrializada da Grã-Bretanha do final do século XVIII, panfletários e agitadores como Thomas Spence e Thomas Paine começaram a defender a reforma social. Já na década de 1770, Spence clamava pela propriedade comum da terra, governo descentralizado, democraticamente administrado e apoio social, especialmente para mães e crianças. Suas opiniões foram detalhadas em seus panfletos autopublicados, como Property in Land, Every One's Right em 1775 e The Meridian Sun em 1796. Thomas Paine propôs um plano detalhado para tributar proprietários de terras para pagar pelas necessidades dos pobres em seu panfleto Agrarian Justice (1797). Devido à sua dedicação à igualdade social e à democracia, Condorcet e Paine podem ser vistos como os predecessores da social-democracia. Charles Hall escreveu Os efeitos da civilização sobre o povo nos Estados europeus (1805), denunciando os efeitos do capitalismo sobre os pobres da sua época. Revolução Francesa (1789–1800) Durante a Revolução Francesa, os sans-culottes da classe trabalhadora tiveram influência significativa sobre o governo revolucionário. Líderes radicais populares dos sans-culottes, como Jean-François Varlet, Théophile Leclerc, Pauline Léon, Claire Lacombe e Jacques Roux, defenderam uma infinidade de políticas, como um "máximo [para necessidades]" e "uma lei rigorosa contra especuladores e acumuladores". Este grupo de revolucionários seria conhecido como os Enragés (Enfurecidos) por seus inimigos, embora não se possa dizer que fossem uma facção real e coesa. À medida que a Revolução progredia, os Enragés protestaram contra as ações do governo revolucionário. Durante o Reinado do Terror, os Enragés foram suprimidos. No Terror Branco, ativistas e teóricos como François-Noël Babeuf e Philippe Buonarroti espalharam ideias igualitárias que influenciariam mais tarde os primeiros movimentos trabalhistas e socialistas franceses. Terror Branco foi um período durante a Revolução Francesa em 1795, quando uma onda de ataques violentos varreu grande parte da França. As vítimas dessa violência eram pessoas identificadas como associadas ao Reinado do Terror — seguidores de Robespierre e Marat, e membros de clubes jacobinos locais. As opiniões de Babeuf, Sylvain Maréchal e Restif de la Bretonne formaram especificamente a base para os conceitos emergentes do socialismo revolucionário e do comunismo moderno. Esses críticos sociais criticaram os excessos de pobreza e desigualdade da Revolução Industrial e defenderam reformas como a distribuição igualitária da riqueza e a transformação da sociedade em uma onde a propriedade privada é abolida e os meios de produção são de propriedade coletiva. Babeuf acabaria por liderar uma conspiração, juntamente com Maréchal, Buonarroti, Augustin Alexandre Darthé, Jean-Antoine Rossignol e outros, que tentaria derrubar o Diretório e instalar uma república radical e proto-socialista, que ficaria conhecida como a Conspiração dos Iguais. Esta conspiração espalhou propaganda e angariou apoio para uma possível revolução anti-Diretório, exigindo "a derrubada do [Conselho dos] Quinhentos e do Diretório [sic], [a restauração] da Constituição de 1793 e, finalmente, alcançar uma igualdade geral." No entanto, esta conspiração foi descoberta pelo Diretório e os seus líderes foram presos. Babeuf e vários dos seus apoiantes foram executados pelo seu papel na conspiração. Buonarroti acabaria por se tornar um historiador e escreveria um relato da conspiração que ajudou a criar. A Conspiração dos Iguais tornar-se-ia o mais infame pensamento e ação proto-socialista, sendo eventualmente considerada por Marx e Engels como tendo sido "[uma das primeiras [manifestações] de um partido comunista verdadeiramente ativo". A revolta dos sans-culottes parisienses de 31 de maio a 2 de junho de 1793. A cena se passa em frente à Câmara dos Deputados, nas Tulherias. A representação mostra Marie-Jean Hérault de Séchelles e Pierre Victurnien Vergniaud. Alex

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