Nietzsche — Filósofo independente (1879–1888) Friedrich Wilhelm Nietzsche (15 de outubro de 1844 – 25 de agosto de 1900) foi um filósofo clássico alemão, crítico da cultura, que se tornou um dos mais influentes de todos os pensadores modernos. Nietzsche escreveu sobre temas tão diversos como arte, filologia, música, história, religião, ciência e tragédia. Fez uma crítica à cultura, à religião e à filosofia ocidentais através da genealogia dos conceitos que as compõem, a partir da análise das atitudes morais (positivas e negativas) perante a vida. O pensamento e o estilo de Nietzsche romperam com os padrões estabelecidos e ele inicialmente se recusou a ser designado para qualquer disciplina clássica. Hoje ele é considerado um dos precursores de uma nova escola filosófica, a Lebensphilosophie (filosofia da vida). Impulsionado por suas doenças e em constante busca por condições climáticas ideais, sustentava-se principalmente de sua pensão de Basileia, complementada ocasionalmente por doações de amigos e trabalho como escritor freelancer. No verão, costumava ficar em Sils-Maria, na Suíça, enquanto no inverno passava a maior parte do tempo na Itália (Gênova, Rapallo, Turim) e em Nice. Visitava sua família em Naumburg de tempos em tempos, o que levou a vários desentendimentos e reconciliações com sua irmã. Seu ex-aluno, Peter Gast (nome verdadeiro Heinrich Köselitz), tornou-se uma espécie de secretário particular. Ele lia em voz alta para o filósofo, que era quase cego. Para todas as obras de Nietzsche a partir de 1876, ele auxiliou na preparação do manuscrito impresso, leu as provas e, às vezes, até interveio na edição final do texto. Segundo intérpretes, Nietzsche valorizava e talvez superestimasse Köselitz como músico e colaborador, enquanto Köselitz reverenciava seu antigo mestre, talvez até o idealizando, e o serviu a ponto de se sacrificar. Gast foi um dos poucos amigos de Nietzsche que pôde criticá-lo. Enquanto estava em Gênova, a visão debilitada de Nietzsche o levou a explorar o uso de máquinas de escrever como meio de continuar escrevendo. Sabe-se que ele tentou usar a Hansen Writing Ball, inventada em 1865, patenteada e colocada em produção em 1870, sendo a primeira máquina de escrever produzida comercialmente. Tendo já perdido alguns amigos após o rompimento com Wagner e a filosofia de Schopenhauer, o estilo completamente novo de Nietzsche foi recebido com incompreensão até mesmo por seu círculo mais próximo, uma incompreensão disfarçada, na melhor das hipóteses, por polidez. Nietzsche estava plenamente consciente disso e cultivava sua solidão, embora frequentemente se queixasse dela. Também era atormentado por preocupações financeiras, já que seus livros praticamente não vendiam. Malwida von Meysenbug continuou sendo uma espécie de protetora maternal, mesmo fora do círculo wagneriano. Nietzsche estava no início de seu período mais produtivo. Começando com "Humano, Demasiado Humano" em 1878, Nietzsche publicou um livro ou uma parte importante de um livro a cada ano até 1888, seu último ano de escrita; naquele ano, ele completou cinco obras. Em 1882, Nietzsche publicou a primeira parte de A Gaia Ciência. Nesse ano, ele também conheceu Lou Andreas-Salomé através de seu amigo Paul Rée (21 de novembro de 1849 – 28 de outubro de 1901), foi um escritor, médico e filósofo alemão. Lou Andreas-Salomé, nascida Louise von Salomé ou Louise Gustavovna Salomé (em russo; São Petersburgo, 12 de fevereiro de 1861 — Göttingen, 5 de fevereiro de 1937), foi uma ensaísta, filósofa, poetisa, romancista e psicanalista nascida na Rússia Imperial. De família russo-alemã, viveu a maior parte da sua vida em outros países da Europa, especialmente na Alemanha. A mãe de Salomé a levou para Roma quando Salomé tinha 21 anos. Em um salão literário na cidade, Salomé conheceu Paul Rée, que se apaixonou e propôs casamento a ela, mas ela, em vez disso, propôs que vivessem e estudassem juntos como "irmão e irmã", estabelecendo uma comuna acadêmica. Rée aceitou a ideia e sugeriu que seu amigo Nietzsche se juntasse a eles. Rée havia conhecido Friedrich Nietzsche em Basileia, em 1873. Os dois se encontram com Nietzsche em Roma em abril de 1882, e acredita-se que Nietzsche se apaixonou instantaneamente por Salomé. Nietzsche, com 37 anos, buscava uma conexão intelectual profunda e viu nela uma alma gêmea e potencial herdeira de seu pensamento. Assim como Rée, Nietzsche pediu Salomé em casamento, o que ela recusou. Ela tinha interesse em Nietzsche como amigo ou mestre, não como marido. Nietzsche contentou-se em acompanhar Rée e Salomé em uma viagem pela Suíça e Itália, planejando sua comuna. Os três viajaram com a mãe de Salomé pela Itália e consideraram onde iriam estabelecer sua comuna "Plano de Inverno". Pretendiam fundá-la em um mosteiro abandonado, mas não encontraram um local adequado. Em 13 de maio, em Lucerna, quando Nietzsche estava a sós com Salomé, ele a pediu em casamento novamente, com toda a seriedade, mas ela recusou. Mesmo assim, ele estava feliz em prosseguir com os planos para sua comuna acadêmica. Após descobrir o relacionamento, a irmã de Nietzsche, Elisabeth, ficou determinada a afastá-lo da "mulher imoral". Nietzsche, Rée e Salomé passaram o verão juntos em Tautenburg. Salomé relata que Nietzsche a pediu em casamento em três ocasiões distintas e que ela recusou, embora a confiabilidade de seus relatos seja questionável. Chegando a Leipzig em outubro de 1872, Salomé e Rée separaram-se de Nietzsche no mês seguinte após uma briga entre Nietzsche e Salomé. Rée e Salomé deixaram Nietzsche, partindo para Stibbe (atual Zdbowo, na Polônia) sem planos de se reencontrarem. Nietzsche logo entrou em um período de angústia mental, embora continuasse a escrever para Rée: "Nos veremos de vez em quando, não é?" Em recriminações posteriores, Nietzsche atribuiria, em ocasiões distintas, o fracasso de suas tentativas de cortejar Salomé à própria Salomé, a Rée e às intrigas de sua irmã (que havia escrito cartas às famílias de Salomé e Rée para sabotar os planos da comuna). Nietzsche escreveu sobre o caso em 1883, que agora sentia "ódio genuíno por minha irmã". Em meio a novos episódios de doença e vivendo praticamente isolado após um desentendimento com sua mãe e irmã a respeito de Salomé, Nietzsche fugiu para Rapallo, onde escreveu a primeira parte de Assim Falou Zaratustra em somente dez dias. Em 1882, Nietzsche tomava doses enormes de ópio e continuava a ter problemas para dormir. Em 1883, enquanto estava em Nice, ele escrevia suas próprias receitas para o sedativo hidrato de cloral, assinando-as como "Dr. Nietzsche". Em 1885, ele imprimiu 40 exemplares da quarta parte de Zaratustra e distribuiu uma pequena parte deles entre amigos próximos, incluindo Helene von Druskowitz (2 de maio de 1856 – 31 de maio de 1918), nascida Helena Maria Druschkovich, foi uma filósofa, escritora e crítica musical austríaca. Ela foi a segunda mulher a obter um doutorado em filosofia, título que conquistou em Zurique. Geralmente publicava sob um pseudônimo masculino devido ao sexismo predominante na época. Em 1883, ele tentou, sem sucesso, obter um cargo de professor na Universidade de Leipzig. De acordo com uma carta que escreveu a Peter Gast, isso se deveu à sua "atitude em relação ao cristianismo e ao conceito de Deus". Em 1886, Nietzsche rompeu com seu editor, Ernst Schmeitzner, enojado com suas opiniões antissemitas. Nietzsche considerava seus próprios escritos "completamente enterrados neste lixão antissemita" de Schmeitzner, associando o editor a um movimento que deveria ser "totalmente rejeitado com frio desprezo por toda mente sensata". Ele então imprimiu Além do Bem e do Mal às suas próprias custas. Também adquiriu os direitos de publicação de suas obras anteriores e, ao longo do ano seguinte, lançou segundas edições de O Nascimento da Tragédia, Humano, Demasiado Humano, Aurora e A Gaia Ciência, com novos prefácios que colocavam o corpo de sua obra em uma perspectiva mais coerente. Depois disso, considerou sua obra concluída por um tempo e esperava que em breve um público leitor se desenvolvesse. De fato, o interesse pelo pensamento de Nietzsche aumentou nessa época, embora de forma lenta e imperceptível para ele. Em 1886, sua irmã, Elisabeth, casou-se com o antissemita Bernhard Förster e viajou para o Paraguai para fundar Nueva Germania, uma colônia "germânica". Por meio de correspondência, o relacionamento de Nietzsche com Elisabeth continuou através de ciclos de conflito e reconciliação, mas eles se encontraram novamente somente após o colapso dele. Ele continuou a ter crises frequentes e dolorosas de doença, o que impossibilitava o trabalho prolongado. Em 1887, Nietzsche escreveu a polêmica Sobre a Genealogia da Moral. No mesmo ano, deparou-se com a obra de Fiódor Dostoiévski, com quem sentiu uma afinidade imediata. Também trocou cartas com Georg Morris Cohen Brandes (4 de fevereiro de 1842 – 19 de fevereiro de 1927) foi um crítico e acadêmico dinamarquês que influenciou profundamente a literatura escandinava e europeia desde a década de 1870 até a virada do século XX. Ele é considerado o teórico por trás da "ruptura moderna" da cultura escandinava. A Ruptura Moderna é o nome comum dado ao forte movimento de literatura naturalista e de debate da Escandinávia que substituiu o romantismo no final do século XIX. Aos 30 anos, Brandes formulou os princípios de um novo realismo e naturalismo, condenando a escrita hiperestética e também a fantasia na literatura. Seus objetivos literários foram compartilhados por alguns outros autores, entre eles o dramaturgo "realista" norueguês Henrik Ibsen. Brandes, que começara a lecionar a filosofia de Søren Kierkegaard na década de 1870. No início de 1888, Brandes proferiu em Copenhague uma das primeiras palestras sobre a filosofia de Nietzsche. Georg Brandes foi crucial para a disseminação e compreensão do pensamento de Friedrich Nietzsche na Escandinávia e na Europa, especialmente por sua análise do "radicalismo aristocrático" de Nietzsche e seu chamado à "elevação da cultura", que ressoaram com o apelo nietzschiano por uma cultura aristocrática e a afirmação do indivíduo. Brandes viu em Nietzsche um pensador radical e original, que propunha uma renovação cultural através do amor-próprio e da individualidade, promovendo uma cultura aristocrática por meio de figuras originais que lutavam contra o rebanho. Embora Nietzsche tivesse anunciado anteriormente no final de Sobre a Genealogia da Moral uma nova obra com o título A Vontade de Poder: Tentativa de uma Reavaliação de Todos os Valores, ele parece ter abandonado essa ideia e, em vez disso, usou algumas das passagens do rascunho para compor Crepúsculo dos Ídolos e O Anticristo em 1888. Sua saúde melhorou e ele passou o verão de bom humor. No outono de 1888, seus escritos e cartas começaram a revelar uma maior estima por sua própria condição e "destino". Ele superestimou a crescente repercussão de seus escritos, especialmente da recente polêmica, O Caso Wagner. Em seu 44º aniversário, após concluir Crepúsculo dos Ídolos e O Anticristo, decidiu escrever a autobiografia Ecce Homo. Em seu prefácio — o que sugere que Nietzsche estava bem ciente das dificuldades interpretativas que sua obra geraria — ele declara: "Ouçam-me! Pois eu sou tal e tal pessoa. Acima de tudo, não me confundam com outra pessoa." Em dezembro, Nietzsche iniciou uma correspondência com August Strindberg e acreditava estar prestes a alcançar sucesso internacional. Planejava traduções para os principais idiomas europeus. Além disso, ele planejou a publicação da compilação Nietzsche contra Wagner e dos poemas que compunham sua coleção Ditirambos Dionisíacos. Johan August Strindberg (Estocolmo, 22 de janeiro de 1849 — Estocolmo, 14 de maio de 1912) foi um dramaturgo, romancista, ensaísta e contista sueco. Intermediada por Geord Brand, August Strindberg e Friedrich Nietzsche tiveram uma breve, mas intensa, correspondência e admiração mútua no final de 1888 e início de 1889, pouco antes do colapso mental de Nietzsche. A influência de Nietzsche em Strindberg foi principalmente psicológica e serviu como um estímulo para o dramaturgo sueco desenvolver suas próprias ideias. Strindberg encontrou nas ideias nietzschianas, especialmente em suas críticas aos valores sociais e à emancipação feminina, uma justificativa para sua visão de mundo, muitas vezes misógina e conflituosa, especialmente em peças como O Pai (1887). August Strindberg e Friedrich Nietzsche exploraram temas como a crise da modernidade, a “morte de Deus”, a construção do self, e tiveram experiências próximas da loucura, influenciando-se mutuamente e moldando o pensamento moderno com suas visões radicais da subjetividade e da cultura. Strindberg, em particular, foi um dos grandes divulgadores de Nietzsche na Escandinávia, ao mesmo tempo em que o via como um companheiro de jornada na busca por uma nova forma de ser. Embora Strindberg tenha feito declarações contraditórias sobre a influência de Nietzsche e reivindicasse ter chegado a ideias semelhantes de forma independente, a erudição moderna sugere que ele pode ter compreendido mal ou utilizado os temas nietzschianos de forma idiossincrática em sua busca por uma nova forma de subjetividade e autoexpressão artística. A Casa em Sils Maria, onde Nietzsche ocupou um quarto durante os meses de verão de 1881 a 1888. O edifício abriga um museu desde 1960. Alex